Por Ricardo
Alcântara (*)
Há uma dissonância entre forma e conteúdo na figura
pública do prefeito Roberto Cláudio: sua aparência amigável é desmentida pela
truculência dos seus atos administrativos e sua prosopopeia fácil, pelos
procedimentos arcaicos na indicação de soluções para a cidade.
Enquanto os tratores de sua fúria obreira levam o
prefeito a atropelar o bom senso, em seu entorno não parece haver massa
cerebral suficiente para agir no mesmo ritmo, alcançando com respostas
esclarecedoras muitos questionamentos, sensatos, que têm sido feito.
O prefeito parece empenhado em deixar sua marca tatuada
na pele da cidade com intervenções que alterem sua textura, mas não se percebe
a mesma dedicação à modesta e não menos relevante tarefa de recuperar os
aspectos degradados de civilidade.
Exemplo: Roberto Cláudio não sabe o endereço de uma única
via de Fortaleza com pelo menos cem metros de calçada com nível e piso regular,
em bom estado de conservação. Não tem. E querem chamar isso de cidade: um lugar
que não tem calçadas!
Foi só um exemplo. Há uma infinidade de outros aspectos
básicos de urbanidade a reclamar maior atenção, enquanto o prefeito concentra
suas expectativas de êxito em pesadas intervenções viárias – parte delas, sim, apropriadas
e de interesse relevante.
Vejam a realidade paralela do centro da cidade. Aquilo
parece área conflagrada, regida por estatuto próprio, à margem da ordem
constituída. Ali, prospera o engodo. O poder público se protege em falsos
critérios ‘sociais’ para comprometer o equilíbrio de uma área vital.
(E, aqui, vale uma emenda: é piada, a cólera
reivindicante de simpatizantes da ex-prefeita Luizianne Lins contra o atual
prefeito quando lhe cobra agora providências em aspectos onde sua líder
dedicou-se a produzir retumbantes fracassos). Fecha parêntese.
Alguns nem percebem os vínculos afetivos com praças da
cidade, mas há quem perceba e crê que tais relações possam se mover para novas
significações por decisão autocrática. É duro e eu não gostaria de dizer, mas é
preciso dar a isto o nome que isto tem: é fascismo.
O Saber como razão de julgo é coceira antiga. Muitas
vacas foram ao brejo, tangidas pela empáfia desses esclarecidos que não
consideraram a possibilidade de perguntar a elas a trilha mais segura. Para
esses ‘contemporâneos do passado’, ouvir é sofrer.
Fico, então, com a metáfora de um observador atento: ‘a
cidade menstruou’ – disse ele sobre a predisposição ruim entre população e
poder público, puxada pela criminalidade destrambelhada e açodada pela ausência
de diálogo. Agora, os surdos ficaram cegos.
(*) Jornalista e
escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre
é cão
sem dono. Se gostou, passe adiante.
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