Por Ricardo
Alcântara (*)
Espero que o governador tenha se divertido ou mesmo
descansado bastante durante todo o feriado porque a quarta-feira de cinzas foi,
para ele, tão ingrata quanto a que inspirou o célebre refrão da marchinha
carnavalesca. Foi de cinzas, a notícia em sua volta ao batente.
Saiu a primeira pesquisa de opinião do ano sobre a sua
sucessão, meio esquisita, por sinal: bancada por uma entidade nacional, foi
realizada apenas no Ceará e excluiu dos questionários diversos nomes já
colocados para a disputa. Encomenda.
Mas, ainda que divulgada com o indisfarçável objetivo de
bombar a candidatura do empresário do voto Eunício Oliveira, o fato é que o
governo estadual não ficou mesmo nada bem na sondagem: dê-lhe dez por cento a
mais e ainda fica devendo.
Talvez eu deva me prevenir, iniciando uma avaliação com dois
chavões: ‘pesquisa eleitoral é retrato de um momento’ e ‘a sete meses da
votação, ela reflete mais o recall de
cada nome do que a sinalização de uma preferência’. Pronto, já disse.
Para quem não viu: nenhum nome apontado com frequência como
preferencial do governador Cid Gomes alcança diferença menor do que 36% de
votos, confrontado com Eunício Oliveira. Se a adversária fosse Luizianne Lins,
um pouco melhor: 15%.
Cid Gomes chega ao quadro, preocupante para ele, por confiar
demais no que governantes costumam confiar: máquinas e alianças. Prova disso,
nenhum esforço maior fez para ‘trabalhar um nome’ junto aos eleitores. São
todos coadjuvantes.
A pesquisa deixa Cid Gomes fisgado no anzol do PT: para
alavancar um figurante à condição de protagonista, contar com o tempo de
propaganda dos petistas na TV é oxigênio puro e, aí, uma vaga para candidato ao
senado sai até muito barato.
E mais ainda. Com o processo de dissenção já iniciado pelo
outro aliado de peso, o PMDB de Eunício Oliveira, a pesquisa dá fôlego aos
petistas que pretendem candidatura própria: o nome de Luizianne Lins aparece
com chances na disputa.
A ex-prefeita impõe seu nome, internamente? Voto a voto,
não. Mas a expressão de sua liderança, explicitada na pesquisa, cacifa o PT do
C (petistas, porém cidistas) a tirar do governador algo mais, além daquilo que
já lhes fora prometido.
Em resumo, é tendência resultante do quadro uma maior
pressão sobre quem se julgava condutor incontestável do processo: disse sempre,
o governador, que ‘discussão eleitoral, só lá para maio’. Pois boa parte dessa
vantagem já vazou.
(*) Jornalista e
escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre
é cão
sem dono. Se gostou, passe adiante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário