Por Marco Antonio Villa
Dilma foi a terceira pior presidente em termos de crescimento
econômico. Só perdeu para Floriano Peixoto e Fernando Collor
Estamos vivendo um momento histórico. A eleição
presidencial de 2014 decidirá a sorte do Brasil por 12 anos. Como é sabido, o
projeto petista é se perpetuar no poder. Segundo imaginam os marginais do poder
— feliz expressão cunhada pelo ministro Celso de Mello quando do julgamento do
mensalão —, a vitória de Dilma Rousseff abrirá caminho para que Lula volte em
2018 e, claro, com a perspectiva de permanecer por mais 8 anos no poder. Em um
eventual segundo governo Dilma, o presidente de fato será Lula. Esperto como é,
o nosso Pedro Malasartes da política vai preparar o terreno para voltar, como
um Dom Sebastião do século XXI, mesmo que parecendo mais um personagem de
samba-enredo ao estilo daquele imortalizado por Sérgio Porto.
Diferentemente de 2006 e 2010, o PT está fragilizado.
Dilma é a candidata que segue para tentar a reeleição com a menor votação
obtida no primeiro turno desde a eleição de 1994. Seu criador foi derrotado
fragorosamente em São Paulo, principal colégio eleitoral do país. Imaginou que
elegeria mais um poste. Não só o eleitorado disse não, como não reelegeu o
performático e inepto senador Eduardo Suplicy, e a bancada petista na
Assembleia Legislativa perdeu oito deputados e seis na Câmara dos Deputados.
A resistência e a recuperação de Aécio Neves foram
épicas. Em certo momento da campanha, parecia que o jogo eleitoral estava
decidido. Marina Silva tinha disparado e venceria — segundo as malfadadas
pesquisas. Ele manteve a calma até quando um dos seus coordenadores de campanha
estava querendo saltar para o barco da ex-senadora.
E, neste instante, a ação das lideranças paulistas do
PSDB foi decisiva. Geraldo Alckmin poderia ter lavado as mãos e fritado Aécio.
Mas não o fez, assim como José Serra, o senador mais votado do país com 11
milhões de votos. Foi em São Paulo que começou a reação democrática que o levou
ao segundo turno com uma vitória consagradora no estado onde nasceu o PT.
Esta campanha eleitoral tem desafiado os analistas. As
interpretações tradicionais foram desmoralizadas. A determinação econômica —
tal qual como no marxismo — acabou não se sustentando. É recorrente a referência
à campanha americana de 1992 de Bill Clinton e a expressão “é a economia,
estúpido”. Com a economia crescendo próximo a zero, como explicar que Dilma
liderou a votação no primeiro turno? Se as alianças regionais são
indispensáveis, como explicar a votação de Marina? E o tal efeito bumerangue
quando um candidato ataca o outro e acaba caindo nas intenções de voto? Como
explicar que Dilma caluniou Marina durante três semanas, destruiu a adversária
e obteve um crescimento nas pesquisas?
Se Lula é o réu oculto do mensalão, o que dizer do
doleiro petista Alberto Youssef? Imagine o leitor quando o depoimento — já
aceito pela Justiça Federal — for divulgado ou vazar? De acordo com o ministro
Teori Zavascki, o envolvimento de altas figuras da República faz com que o
processo tenha de ir para o STF. E, basta lembrar, segundo o doleiro, que só
ele lavou R$ 1 bilhão de corrupção da Refinaria Abreu e Lima. Basta supor o que
foi desviado da Petrobras, de outras empresas e bancos estatais e dos
ministérios para entender o significado dos 12 anos de petismo no poder. É o
maior saque de recursos públicos da História do Brasil.
Nesta conjuntura, Aécio tem de estar preparado para um
enorme bombardeio de calúnias que irá receber. Marina Silva aprendeu na prática
o que é o PT. Em uma quinzena foi alvo de um volume nunca visto de mentiras
numa campanha presidencial que acabou destruindo a sua candidatura. Não soube
responder porque, apesar de ter saído do PT, o PT ainda não tinha saído dela.
Ingenuamente, imaginou que tudo aquilo poderia ser resolvido biblicamente,
simplesmente virando a face para outra agressão. Constatou que o PT tem como
princípio destruir reputações. E ela foi mais uma vítima desta terrível
máquina.
O arsenal petista de dossiês contra Aécio já está pronto.
Os aloprados não têm princípios, simplesmente cumprem ordens. Sabem que não
sobrevivem longe da máquina de Estado. Contarão com o apoio entusiástico de
artistas, intelectuais e jornalistas. Todos eles fracassados e que imputam sua
insignificância a uma conspiração das elites. E são milhares espalhados por
todo o Brasil.
Teremos o mais violento segundo turno de uma eleição
presidencial. O que Marina sofreu, Aécio sofrerá em dobro. Basta sinalizar que
ameaça o projeto criminoso de poder do petismo. O senador tucano vai encontrar
pelo caminho várias armadilhas. A maior delas é no campo econômico. O governo
do PT gestou uma grave crise. Dilma foi a terceira pior presidente da história
do Brasil republicano em termos de crescimento econômico. Só perdeu para Floriano
Peixoto — que teve no seu triênio presidencial duas guerras civis — e Fernando
Collor — que recebeu a verdadeira herança maldita: uma inflação anual de quatro
dígitos. O PT deve imputar a Aécio uma agenda econômica impopular que enfrente
radicalmente as mazelas criadas pelo petismo. Daí a necessidade imperiosa de o
candidato oposicionista deixar claro — muito claro — que quem fala sobre como
será o seu governo é ele — somente ele.
Aécio Neves tem todas as condições para vencer a eleição
mais difícil da nossa história. Se Tancredo Neves foi o instrumento para que o
Brasil se livrasse de 21 anos de arbítrio, o neto poderá ser aquele que livrará
o país do projeto criminoso de poder representado pelo PT. E poderemos,
finalmente, virar esta triste página da nossa história.
Marco
Antonio Villa é historiador.
Fonte: Artigo no
editorial de O Globo de 7/10/2014.
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