Bem aventurados
aqueles que acolhem e se deixam conduzir pela Palavra de Deus, tendo-a como
eterna e sagrada, na qual se edificam sonhos e projetos de vida. O Papa
Francisco ao comentar o Evangelho da casa edificada sobre a rocha, ou sobre a
areia, na missa do dia 4/12/2014, disse que “Não basta se declarar cristão, é
preciso agir”, deixando claro que o cristão não pode ser de aparência, mas deve
colocar em prática o amor de Jesus, mostrando-nos portanto, que a missão de
santificar, ensinar e governar tem sempre como fundamento a Boa Nova da
salvação, anunciando Jesus Cristo, o Evangelho por excelência, maior e melhor
dom inigualável de riqueza, que Deus Pai fez descer do céu, abrindo nossos
olhos, quando afirma: “A Igreja é chamada a aproximar-se de todas as pessoas, começando pelos
mais pobres e aqueles que sofrem”.
No Jornal El País
em 3/12/2014 o jornalista Juan Arias fala que os burocratas da Igreja o acusam
entre dentes de que fala pouco de Deus e muito dos homens, sobretudo, dos mais
marginalizados pela sociedade, sendo cada vez menos amado por setores da
hierarquia da Igreja do que pelas pessoas, dizendo que Francisco gosta menos de
muitos devotos do que da caravana humana dos que sofrem. Para ele, bastam as
páginas dos evangelhos que estão mais povoados de histórias de marginalizados e
excluídos do convívio social do que de glória e triunfos divinos, indicando que
o Santo Padre cita menos documentos e encíclicas. Em verdade Francisco tem
absoluta convicção de que a promessa do Pai se concretiza no Filho Jesus Cristo
que “sendo rico, se fez pobre, a fim de nos enriquecer com sua pobreza” (cf. 2Cor 8, 9),
e que “Os orgulhosos, os vaidosos, os cristãos de aparência” – sublinhou o
Papa Francisco – “serão derrubados, humilhados”, enquanto “os pobres serão os
que vão triunfar, os pobres em espírito, aqueles que diante de Deus não se
sentem importantes, os humildes, e que realizam a salvação, colocando em
prática a Palavra do Senhor”.
Ainda, segundo o
referido colunista, o Sumo Pontífice opta em falar mais da criatura humana como
imagem e semelhança de Deus do que da divindade, o que começa a ser visto como
uma heresia. Sinceramente, não compreendo a relação disto com uma heresia,
sendo que Francisco tem manifestado posições que carregam a marca redentora do
absoluto de Deus, associado e intimamente unido a Jesus de Nazaré, que foi
pregado aos trinta e três anos de idade numa cruz, por ter percebido os sinais
dos tempos e sido exagerado em defender os empobrecidos, antevendo neles seu
próprio aniquilamento, sua suprema dor e angústia, em uma realidade misteriosa,
da qual não se pode dissociar o humano do divino.
Retomando o assunto
anterior do Bispo de Roma, ao assegurar que “não basta pertencer a uma família
muito católica, a uma associação ou ser um benfeitor se, depois, não se faz a
vontade de Deus. ‘Muitos cristãos de aparência caem nas primeiras tentações’,
afirmou, porque não têm ‘substância’, construíram sua casa sobre a areia”.
Dentre as inúmeras
e inspiradoras frases de Francisco, duas em especial, relacionadas a este
contexto, vêm à minha mente neste instante: “Vivemos na religião mais desigual do
mundo”; “A paz é um bem que supera qualquer barreira, porque é um bem de toda a
humanidade”. Uma construção na qual reina a paz precisa ser sólida e segura no seu
alicerce, indo na direção do Romano Pontífice, deixando claro que os cristãos
jamais poderão se distanciar dos seus ensinamentos, ao encerrar a referida
homilia, na Casa Santa Marta, citando São Bernardo de Claraval: “Pense, homem, o que
será de você: alimento para os vermes”. “Os vermes irão nos comer, a todos” - recordou o Papa
– “Se não temos esta rocha, vamos acabar pisoteados”: “Neste tempo de
preparação para o Natal pedimos ao Senhor para sermos firmes na rocha que é
Ele, a nossa esperança é Ele.
Todos nós somos
pecadores, somos fracos, mas se colocarmos a esperança n’Ele podemos avançar. E
esta é a alegria de um cristão: saber que n’Ele há esperança, há perdão, há
paz, há alegria. E não colocar a nossa esperança em coisas que hoje existem e
amanhã não existem mais”. Assim seja!
* Geovane Saraiva é padre da Arquidiocese de
Fortaleza.
Fonte: O Povo, de 14/12/2014. Espiritualidade. p.14.
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