“A história da escravidão é um abismo
de degradação e miséria que não se pode sondar”. Joaquim
Nabuco
Ouso
sondar e o faço sem medo, pois a história sempre é contada pelos vencedores e
por historiados complacentes. É claro que as poesias de Antonio de Castro Alves
são um libelo e o que João Capistrano de Abreu escreveu merece fé. Ambos
deveriam ser lidos por quem acredita que a escravidão foi apenas um período de
degradação de história mundial. A escravidão ainda existe, embora com outros
nomes. Os imigrantes indocumentados que trabalham clandestinamente são tratados
como escravos.
Aqui
no Brasil há isso, ainda hoje. A diáspora pela sobrevivência de muitas raças é
a confirmação do que explano. Um pequeno exemplo: a fuga da pobreza de
haitianos para o Brasil é prova disso, Sem falar na enganação dos últimos anos
sobre uma ação humanitária do Brasil em países africanos. Na verdade, as grandes
empresas que para lá foram queriam mercado de trabalho a base de propinas. Tal
como aqui se faz. E os “nativos” foram e são usados apenas como mão de obra
barata.
Pessoas
eruditas, e outras nem tanto, fazem cara de pena quando veem em jornais, nas
revistas e nas redes de televisão o morticínio de negros africanos que, por
absoluta falta de oportunidade, fogem de seus países assolados por desemprego,
por fome e por doenças. Tudo comandado por ditadores patrocinados pelas
potências ocidentais ou governos “democratas” locais em eleições forjadas e
viciadas.
Neste
2015, pessoas e famílias usam todo o dinheiro amealhado – sabe Deus como – para
serem transportados em novos navios
negreiros de bandeiras diferentes que,
em meio ao mar mediterrâneo, afundam, jogam passageiros doentes ao oceano ou “são afundados” por guardas costeiras.
Segundo
estatísticas da própria Organização das Nações (des)Unidas – ONU, morreram na
travessia, em 2104, 3.500 pessoas, entre homens, mulheres e crianças.
Estatística, dizem uns, é a ciência da dúvida. Morreram muitos mais. Se tiver a cabeça metida em um “freezer” e os
pés em uma fogueira, a média estará boa. Os navios afundados – e não são poucos – repousam no fundo do mar
e ninguém se importa com isso.
Verdade
seja dita, a Europa, que eu conheço de ponta a ponta, abomina a chegada de
negros e árabes, embora disfarce. A Alemanha de hoje, além dos “abomináveis”
turcos, conta com uma massa grande de árabes e negros que sobrevivem em
subempregos ou servem aos traficantes de drogas que os cooptam.
Os
camelôs negros da Itália estão sempre próximos aos pontos de atração de um país
que tem no turista uma das suas grandes fontes de renda. Hoje, eles são
disputados por chefes de contrabando e de
tráfico quando saem do Porto de Lampedusa e se misturam em guetos. Em
outros países europeus nada é diferente da Alemanha e da Itália. Lembram-se do
ataque ao tabloide “Charlie”, em Paris?
A
tal da libertação falaciosa dos escravos em 13 de maio de 1888 no Brasil foi
pouco mais que um ato político preparando a proclamação da República. A
história do tráfego de escravos em Portugal, dita nossa pátria mãe, começou no
século XV, desde 1448, sob a égide de D. João III, antes mesmo da descoberta do
Brasil. Como se sabe, Portugal só se lembrou da existência desta sua então
colônia brasiliana depois de 1530.
O
reinado de Portugal, em 13 de março de 1531, instituiu as Capitanias
Hereditárias, não por ser bonzinho, mas pela incapacidade de gerir tantas
colônias no ocidente e oriente, até na China, onde Macau foi portuguesa até bem
pouco. Era conquista demais para pátria lusitana cantada em verso nos
“Lusíadas”, por Camões.
Saibam
vocês que o Papa Nicolau V, da Santa Igreja Católica, até editou a Encíclica “Dum Diversitas” liberando a
escravatura. A “Dum” vigeu entre 1513 e 1605. Na realidade, a Igreja queria
apenas cristianizar negros que tinham as suas fés próprias, ainda hoje
arraigadas em todos os países em que habitam. Ao lado disso, não se pode
esquecer as atrocidades da Inquisição na Idade Média.
Diz
Felipe de Alencastro, sobre o problema da escravocracia brasileira: “A
escravidão legou-nos uma insensibilidade, um descompasso com a sorte da maioria
que está na raiz da estratégia da classe dominante.” Quem leu alguma coisa de
História sabe que os portugueses, os espanhóis e os ingleses foram os maiores
fornecedores de escravos, a partir do século XVI. Mas, é preciso deixar claro
que a escravatura é antiga, bíblica até, apesar dos discursos de democracia,
consumidores e usuários de escravos.
Carregar
um pacote, construir monumentos e palácios não eram coisas para cidadãos. Cabia
aos escravos esse “trabalho sujo”. Assim, ninguém se espante que os
comerciantes, a partir do século XVI, fizessem do tráfico de negros da Costa do
Marfim, Angola, Nigéria, Moçambique e outros lugares, um grande negócio. Cada
navio, movido a vela e até com ajuda de remos, usando astrolábios, era uma
empresa flutuante que importava e exportava, por viagem, em torno de 400
africanos para os mercados das Américas do Norte, Central e do Sul.
No
Brasil, as capitanias mais desenvolvidas, Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro,
tiveram os seus negócios de agricultura de açúcar e do ouro, movidos pelos
braços fortes dos que eram vendidos, como mercadoria, em praças públicas. A
nossa Igreja, enquanto isso se preocupava em transmitir a fé aos silvícolas e
usar a sua mão de obra para a construção de templos, desde as “Missões”, no
extremo sul do Brasil colonial, passando pelo Rio, as Minas Gerais, a Bahia e
chegando a Pernambuco e a outras plagas.
A
“Lei Bill Aberdeen”, de 1845, proibiu de fato, mas não de verdade, o tráfico de
escravos por navios da Inglaterra. Aqui no Brasil, em 1850, copiando – sempre
por atraso no pensar – surgiu a Lei Eusébio de Queiroz, com quase o mesmo
objetivo.
Estas
são as razões pessoais que não me fazem comemorar o dia 13 de maio. O Brasil
vive momento crucial de sua história. Há tramas urdida por muitos, alimentadas
apenas por interesses que já se tornam claros, pois sequer há mais um mínimo de
desfaçatez. Hoje, os eleitores brasileiros tornaram-se escravos de seus
próprios escolhidos, independente dos partidos políticos que os abriguem.
Fonte: Publicado no jornal O Estado, sexta, 15 de
junho de 2015.
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