“A solenidade da Santíssima Trindade é um
convite à adoração, à ação de graças, e é também um convite à reflexão”
Hoje, dia 31 de
maio de 2015, a Igreja Católica celebra o mistério insondável de Deus, a
Santíssima Trindade. É dogma da fé católica que proclama a união de três
pessoas distintas, Pai, Filho e Espírito Santo, formando um só Deus. Para
muitas pessoas hoje, a pregação da Igreja a respeito da Trindade é
obscurantismo. Para que ofender a inteligência dizendo que Deus é ao mesmo tempo
um e três? Durante os primeiros séculos de sua existência, a Igreja tinha
enorme dificuldade para expressar em palavras o inexprimível - a natureza do
Deus em que acreditamos.
A expressão
Trindade não é usada nas Escrituras para designar as três pessoas divinas. Já
no Novo Testamento, cada uma delas é nomeada de forma distinta. Dois grandes
concílios ecumênicos estudaram este grande mistério. O Credo da Igreja Católica
que tem o nome de Niceno-Constantinopolitano foi escrito durante o primeiro
Concílio Ecumênico em Nicéia em 325, e terminado durante o segundo Concílio
Ecumênico em Constantinopla em 381. Chegou à expressão belíssima do Credo
Niceno-Constantinopolitano, infelizmente tão pouco usado nas celebrações de
hoje, que apresenta o Pai como “criador de todas as coisas”, O Filho como “Deus
de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não
criado...”, e o Espírito Santo que “dá vida, e procede do Pai e do Filho”. Mas,
mesmo essas expressões e frases tão profundas não conseguem explicar a
Trindade, “pois se Deus fosse compreensível à mente humana, não seria Deus”. A
solenidade da Santíssima Trindade é um convite à admiração, à adoração, à ação
de graças, e é também um convite à reflexão.
O Catecismo da
Igreja Católica afirma “Jesus mesmo confirma que Deus é ‘o único Senhor’ e que
é preciso amá-lo de todo o coração, com toda a alma, com todo o espírito e com
todas as forças” (CIC 202 e Mc 12, 29-30). A verdade revelada da Santíssima
Trindade esteve desde as origens na raiz da fé viva na Igreja, principalmente
por meio do Batismo. Ela encontra sua expressão na regra da fé batismal,
formulada na pregação, na catequese e na oração da Igreja. Na liturgia
eucarística usamos a expressão: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus
e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós” (2 Cor 13, 13).
Deus criou o ser
humano, homem e mulher à sua imagem e semelhança (Gn 1, 27). Se formos criados
na imagem e semelhança de Deus, é de um Deus que é Trindade, que é comunidade
perfeita na diversidade. Assim, só podemos ser pessoas realizadas na medida em
que vivemos comunitariamente. Quem vive só para si é destinado à frustração e
infelicidade, pois está negando a sua própria natureza. O egoísmo e
individualismo são a negação de quem somos, pois nos fecha sobre nós mesmos,
enquanto fomos criados na imagem de um Deus que é o contrário do
individualismo, pois é Trindade.
Segundo o teólogo
Thomas Hughes, “o mundo pós-moderno, onde o individualismo social, econômico e
religioso é tido como critério fundamental da vida, a doutrina da Trindade nos
desafia para que vivamos a nossa vocação comunitária, criando uma sociedade de
partilha, solidariedade e justiça, pois fomos criados na imagem e semelhança
deste Deus que é amor e comunhão”. A festa da Santíssima Trindade não é de um
mistério “matemático” – como pode ter três em um? – mas do mistério do
insondável amor de Deus, que nos criou para que vivêssemos comunitariamente na
sua imagem e semelhança. Se a Trindade fosse um problema matemática, deveríamos
buscar uma solução. Mas segundo o teólogo jesuíta Johan Konings, “Na realidade
não se trata de uma formula matemática, mas de um resumo de duas certezas de
nossa fé: 1) Deus é um só, e 2) o Pai, o Filho e o Espírito Santo são Deus”.
Brendan Coleman Mc Donald é padre redentorista e assessor da
CNBB Reg. NE.
Fonte: O Povo, de 31/5/2015. Espiritualidade. p.28.
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