É indispensável
olhar para o Filho de Deus, sempre sensível às necessidades mais elementares de
todo um povo ou uma multidão de pessoas, todos cercados pelo sofrimento ao
mesmo tempo. Somos convocados, como seus discípulos e seguidores, hoje, com um
coração bom, grande e generoso, numa atitude responsável a repetir o mesmo
gesto do Mestre e Senhor. Cinco pães e dois peixes têm como resultado a soma
sete, um número teológico completo, perfeito (cf. Jo 6, 1-15). Pelo o esforço
da partilha e desperdício é claro que podemos enxergar o grande e maior
milagre, a manifestação da glória de Deus, sinal de um mundo mais justo e mais
solidário. Como seria maravilhoso sempre se expressar, de acordo com a vontade
do Pai: “Ao senhor quero cantar, pois fez bilhar a sua glória!” (cf. Ex 15, 1).
Sinal evidente do
brilho da glória de Deus deu-se com a eleição de Jorge Mario Bergoglio
(13/3/2013), que logo no início de seu pontificado mostrou sinais concretos da
importância do Concílio Vaticano II: dispensou a cruz de ouro, recusou o carro
de luxo, pagou a sua conta na pensão, exortou os bispos a saírem dos palácios e
a irem para as periferias, disse que a Igreja sem a Cruz é tão somente uma
piedosa ONG, pediu a bênção dos fiéis e se esforça para dar rumo aos trabalhos
pastorais nos nossos dias. Vejo a essência do seu pontificado nas palavras
daquele que era invocado com nome ‘Dom da Paz’, Hélder Câmara: “Que eu aprenda
afinal, com a paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, a cobrir de véus o acidental
e efêmero, deixando em primeiro plano, apenas o mistério da Redenção”.
O Papa Francisco em
suas palavras antes da oração mariana do Ângelus (26/7/2015), deixou claro que
os discípulos raciocinam com mentalidade de ‘mercado’; destacou que a ninguém
falte o pão e uma vida digna e ainda: Jesus sacia a fome do sentido da vida,
falando da substituição da lógica do mercado que é ‘comprar’ pela a lógica de
Deus que é ‘dar’. Comentou de um modo simples, quanto profundo, o Evangelho do
domingo, o qual fala da multiplicação dos pães e dos peixes, deixando claro que
Jesus sacia não só a fome material, mas aquela mais profunda, a fome do sentido
da vida, a fome de Deus. E acrescentou: “Jesus não é só alguém que cura, que
realiza milagres, mas é também Mestre. De fato, sobe a montanha e se senta, na
típica atitude do mestre quando ensina: sobe sobre aquela ‘cátedra’ natural
criada pelo seu Pai celeste”.
Como o Santo Padre
nos encanta ao falar do agir e do poder misericordioso de Deus, que nos cura de
todos os males do corpo e do espírito. E da janela do último andar do Palácio
Apostólico, o Pontífice citou os gestos realizados naquela ocasião por Jesus,
que “tomou aqueles pães e aqueles peixes, deu graças ao Pai e os distribuiu”, antecipando “aqueles da Última
Ceia, que dão ao pão de Jesus seu significado mais profundo e verdadeiro”.
Por fim, concluiu o
Sumo Pontífice: “Participar da Eucaristia significa entrar na lógica de Jesus, a lógica
da gratuidade, da partilha; comungar significa também atingir de Cristo, a
graça que nos torna capazes de partilhar com os outros o que somos e o que
temos”. Aqui percebo uma enorme afinidade na mística do Servo de Deus, Dom
Hélder Câmara, que soube ver o rosto de Deus na dor, na angústia e no
sofrimento do próximo, a exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo, numa profunda e
terna compaixão, desejando-lhe sua restauração por inteiro: “Se eu pudesse
sairia povoando de sono e de sonhos as noites mal dormidas dos desesperados”.
Será que estamos
perto de voltar às origens do cristianismo e a reaprender o Evangelho? O Papa
Francisco é contumaz e dar o exemplo, dizendo-nos que devemos beber novamente
da fonte d’água da vida que é o próprio Deus. Aqui faz-nos lembrar o Papa João
XXIII, na aula inaugural do Concilio Vaticano II (1962-1965), quando disse com
força: “Aqui estamos para a nossa conversão” e ele mesmo se incluía;
significando que nós, cristãos, padres e bispos e até o Papa, todos chamados à
conversão do coração, que no dizer do Cardeal Lorscheider, em consonância com
do espírito do referido Concílio, trata-se da Igreja povo de Deus, Igreja toda
missionária, peregrina na história, despojada, servidora e sempre necessitada
de conversão. Assim seja!
(*) Geovani Saraiva é escritor, blogueiro, colunista,
vice-presidente da Previdência Sacerdotal e Pároco de Santo Afonso,
Parquelândia.
Fonte: O Povo, de 9/8/2015. Espiritualidade. p.31.
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