Márcia Alcântara
Holanda (*)
A lembrança de que ele já
foi um dos maiores líderes políticos do nosso País nos causa mais estragos
Cabe logo conhecer-se o significado de dor
(Wikipédia): para o lado médico, a dor é uma sensação penosa, desagradável,
produzida pelos estímulos internos ou externos de terminações nervosas
sensíveis a esses fatores. Podem ser de vários tipos: intensas, agudas,
crônicas; em vários componentes do nosso corpo, como a dor de cabeça. Por outro
lado, existe a dor da alma, causada por sentimentos de perdas, danos,
desgraças, mágoas, decepções, desaparecimento de sonhos idealizados e muito
mais.
A dor que chamei de “romba” é aquela dor disforme
que causa extremo mal-estar como se um rombo, de fato, tivesse sido feito na
nossa alma: nossa essência se desfigura, os sonhos se esvaem e fica esse
“enorme buraco” detonador de rumos que propusemos, um dia, para as nossas
vidas. Foram três as principais dores “rombas” que se abateram sobre os
brasileiros nesse setembro de 2016, abalando a estrutura emocional da imensa
maioria deles.
A essência de cada um de nós foi trespassada
primeiramente pelo show midiático promovido pelo grupo de procuradores da “Lava
Jato”, operação que se desenrola para a moralização do Poder Público, apoiada
pela maioria da população brasileira e que, segundo os resultados das
investigações, esse poder está contaminado pela propinocracia e, portanto, está
mergulhado até o pescoço em corrupção. A dor romba foi disparada na hora em que
foi dito em rede nacional e internacional, que o ex-presidente Lula era o
“comandante máximo” do petrolão, “artífice da propinocracia”, “maestro da
orquestra criminosa”.
Revendo: Lula representou para os brasileiros a
esperança de uma vida melhor, num Brasil que até então tinha sua política
dedicada às classes sociais elevadas. Seu primeiro governo foi de resultados. O
povo o admirou, confiou e viveu dias melhores, ganhou dos brasileiros o apoio e
louvor irrestritos, reelegeu-se. No governo de sua sucessora, tudo ia bem até o
desmoronamento de tal estrutura política. A demonstração didática dos
procuradores atingiu Lula e o povo sofreu a intensa dor da desilusão, mas só
nos convenceu de que Lula faltou com a ética e prevaricou, estabelecendo uma
relação promíscua com empreiteiras quando desejou ter um tríplex em Guarujá.
A dor romba se formou e ficou. A segunda foi a
contestação melancólica do ex-presidente que, cheio de emoção, tentou nos
convencer de que é inocente e está a catar picuinhas para se ver livre das
acusações e de ser preso como seus pares. A lembrança de que ele já foi um dos
maiores líderes políticos do nosso País nos causa mais estragos.
Finalmente o “Velho Chico” tragou, num turbilhão de
correnteza, o grande ator global que deixou esposa, filhos, um legado de arte
novelística e seus fãs atingidos por mais uma dor romba nesse setembro de
dores. As reflexões são necessárias agora.
(*) Médica pneumologista; coordenadora do Pulmocenter;
membro da Academia Cearense de Medicina.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 27/9/2016. Opinião. p.11.
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