Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
A crônica é o melhor recurso
que o jornalismo tem para enfrentar os novos tempos. É a mescla da informação com a emoção, do mundo objetivo,
público, com o mundo privado ou íntimo. Por meio dela, ao mesmo tempo pode-se
descrever a notícia que afeta uma comunidade e entender sua repercussão
individual. E, a partir disso, analisar por que essa notícia transforma a vida
de certas pessoas. A crônica tem muito prestígio cultural. Se você perguntar a
uma autoridade, a um empresário ou a um leitor comum se eles gostam de crônica,
vão dizer que sim, porque ela evoca o humano, o real.
Por outro lado, há uma busca pela audiência, hoje
potencializada pela internet, que faz com que tudo o que tenha sangue seja
valorizado "if it bleeds, it leads"
(se sangra, tem destaque), tendência que nunca foi tão verdadeira como na mídia
atual.
Outro dia, eu estava olhando o índice de um dos meus
livros de crônicas. Notei que 80% delas tinham saído em veículos que não
existem mais. São publicações efêmeras, suicidas ou pouco lucrativas.
Nós, cronistas, temos prestígio, mas a nossa
transcendência não é tão grande quanto imaginamos. Conto nos dedos das mãos os
cronistas que sobrevivem escrevendo crônicas. Quando muito, ficam a mendigar
espaços nos periódicos para escrever de graça.
O prestigio de muito dono de jornal vem do poder de
oferecer espaço para as crônicas.
A crônica por parecer um gênero mais fácil, e realmente o
é, para os que ousam mostrar suas tendências literárias para sobreviver. No
entanto, sabendo ou não, estão vendendo a granel a sua vocação ou sua falta de
vocação de escritor.
Alguns fazem delas narração histórica, por ordem cronológica, pequeno conto, de enredo
indeterminado, ou texto
jornalístico redigido de forma livre e pessoal.
Outras não passam de seção de revista ou de jornal, conjunto de notícias sobre alguém ou algum assunto. O pior é que a crônica aborda assunto mais literário do que jornalístico e não admite o anonimato, ela tem de ser assinada. Para ser crônica tem que ser assim.
Outras não passam de seção de revista ou de jornal, conjunto de notícias sobre alguém ou algum assunto. O pior é que a crônica aborda assunto mais literário do que jornalístico e não admite o anonimato, ela tem de ser assinada. Para ser crônica tem que ser assim.
O cronista é um homem que passa
a vida procurando contar as ocorrências diárias, tentando fazê-lo com graça.
Sofre até os males do envelhecimento, pois quando o cronista está escrevendo um
artigo suspeita que já o tenha escrito. E o pior é que com o passar do tempo vamos
ficando mais enfastiados de nós mesmos. Não caia nessa de pedir para que seu
artigo seja publicado. Vira um vício muito perigoso. Nem craque vicia tanto.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
Nenhum comentário:
Postar um comentário