Pedro
Henrique Saraiva Leão (*)
Contrariando vezo (costume) condenável de
administradores brasileiros – a descontinuidade –, a nova diretoria da quase
quarentona Academia Cearense de Medicina (05/1978) vem mantendo as diretrizes
basilares assentadas pelo diligente condutor anterior, dr. Vladimir Távora F.
Cruz. Contudo, ouve-se a pregação de um novo evangelho, pelo atual presidente,
não menos notável professor Manassés C. Fonteles. Nesse breviário sobressai sua
pretendida disponibilização no enfrentamento especializado de recentes e
revelhas moléstias. Destarte, a ACM apontaria a solução para desafios impostos
à superintendência oficial de interesses sanitários.
Seria qual um assessoramento jurídico prestado pela
OAB quando requisitada. “Mutatis mutandis”, médicos comporiam conselhos de
saúde em diversas repartições, ligadas à higidez dos seus afiliados. Sua
atuação seria sobremaneira na preservação de doenças mortais como a
coronariana, o câncer, o AV – cerebral, os distúrbios respiratórios graves,
renais, hepáticos, e o diabetes. Paralelamente, os progressos científicos desde
1966, inclusive a inversão do envelhecimento (!) mereceriam melhor compreendidos
à luz da genética e da biotecnologia, como pelos procedimentos com nano – robôs
(do grego “nánnos” = anão) estes do tamanho de uma célula sanguínea (fineza ler
“Dr. Robô”, 20/1/1992).
Vale aqui salientada a ficção científica do
futurólogo russo–americano Isaac Asimov, em “Viagem fantástica”. Hoje,
cogita-se até da molécula “reversine” na reprogramação de células envelhecidas,
e nos “respirócitos”, mais eficientes do que as hemácias no transporte de
oxigênio pelo sangue. É esse o “admirável mundo novo”, do inglês Aldous Huxley,
previsto em 1932. Outrossim sedutor é o imperioso estudo da imunologia,
fronteira derradeira de uma medicina já denominada “Igi/ênica”.
Enquanto no embate da vida com a morte, esta
continuar ganhando, tais preocupações integram o adestramento da ACM para os
anos 2026, 2030, ou 2045, data mencionada por Ray Kurzweil para a chegada dos
“cyborgs”, ou homens/máquinas, com inteligência artificial superior à
biológica. Sendo a real relevância destas inovações discutida mais acuradamente
em inglês, o mesmo seria lá ministrado em cursos livres, compactos e rápidos
(“cramcourses”), abordados neste espaço em 14/10/2015 (“Cursos de primavera”).
Neste mesmo periódico aludimos às “Remêmoras, -
sessões de reverência aos membros falecidos” – sabiamente introduzidas pelo
laborioso ex-presidente Vladimir Távora em 2014 – com segunda edição programada
para breve (solicitamos reler “Passado, presente”, O POVO, 28/1/2015). Estas
evocações igualmente cumprem vitalíssima função nas academias, pois assim
seremos lembrados, realmente imortais.
(*) Professor Emérito da UFC.
Titular das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de Médicos Escritores.
Fonte: O Povo,
Opinião, de 16/11/2016. p.10.
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