Médico-Psicoterapeuta
Bullying
é um termo inglês empregado para
descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos,
que são praticados seja por uma pessoa, ou seja por um grupo de
"valentões", com o objetivo de intimidar e/ou agredir uma ou várias
pessoas incapaz (es) de se defender.
Por não existir uma palavra equivalente na língua portuguesa, capaz de
expressar todas as situações possíveis de bullying, registro, a seguir, algumas ações que estão relacionadas a esse tipo de
violência: colocação de apelidos, humilhações, ofensas, discriminações,
assédios, gestos violentos, agressões, empurrões, chutes, tapas, ferimentos,
destruição de pertences, intimidações, entre outros.
Uma pesquisa realizada pelo Institute Warwick Medical School, da
University of Warwick, Coventry, na Inglaterra, e que foi publicada no Arch.
Gen. Psychiatry, em 2009, concluiu que as vítimas das agressões acima citadas
se tornavam mais susceptíveis de apresentar sintomas psicóticos, no início da
adolescência. Neste sentido, das 6.437 crianças estudadas desde o nascimento, e
submetidas anualmente a avaliações física e psicológica, aquelas que haviam
sofrido agressões, por parte dos colegas, apresentaram uma propensão, quatro
vezes maior, de desenvolver sintomas psicóticos - alucinações, delírios e
distúrbios de pensamentos - na pré-adolescência, quando comparadas com as
crianças que não sofreram violências (o grupo de controle).
Mesmo aquelas que não foram vitimizadas, e, apenas, presenciaram as cenas
de vandalismo em relação aos colega(s), temendo vir a se tornar a próxima
vítima, estavam mais propensas a ser pessoas desajeitadas, do ponto de vista
social, e mais susceptíveis de ser alvo de chacotas, quando adultos,
principalmente em âmbito profissional. O mesmo resultado foi encontrado em uma
pesquisa realizada com gêmeos monozigóticos, que frequentaram educandários
distintos: aquele que sofreu agressões de seus pares apresentou dificuldades
sociais, ao passo que seu irmão (ou irmã), que não vivenciou tal situação, não
apresentou qualquer dificuldade social.
De forma geral, então, a violência escolar deveria ser um alvo de maior
interesse, em se tratando da prevenção e intervenção precoce à saúde mental e à
profilaxia das psicoses. E, se 10% das crianças inglesas sofreram ou virão a
sofrer algum tipo de agressão, por parte dos seus colegas, imaginem os(as)
leitores(as), em nosso país, o percentual de casos que existe entre as crianças
das populações marginalizadas.
Arrematando: o bullying aumenta, sobremaneira, a probabilidade de as crianças desenvolverem
transtornos psiquiátricos, a exemplo da esquizofrenia e da depressão na adolescência,
estendendo-se isso à vida adulta. Por sua vez, as crianças e adolescentes que
são abusadoras(es), no presente, também estão propensos a desenvolver
comportamentos antissociais no futuro. Portanto, qualquer tipo de violência na
idade escolar, deve ser encarado como um sério problema, agora e sempre.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da
Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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