Por Márcia Alcântara Holanda (*)
No
Dia de Finados, o arcebispo do Rio, Dom Orani João Tempesta, rezou por mortos
pela Covid-19 e acendeu uma pira, que só será apagada quando houver uma vacina
contra a doença e a chamou de: "Chama da Esperança" (O Globo
2/11/2020), num apelo claro à ajuda divina para se ter uma vacina que vença a
prova da segurança e eficácia contra o Sars-CoV-2.
O
significado de pira diz que é local em que se submete algo à prova. A
"Chama da Esperança" seria então para a chegada de uma vacina que,
submetida às provas, seja segura e eficaz aos brasileiros contra essa doença.
Entretanto,
a pira do Rio pode também evocar a corrida dos candidatos ao "pódio"
- aqui representado pelo Palácio do Planalto, nas eleições de 2022. Para esse
feito não se requer preparo olímpico, nem cientistas ou laboratórios, mas sim
um linguajar e ações de uma mediocridade e ludíbrios desabonadores para com os
reais valores das vacinas em produção no Brasil. Na corrida torpe, há quem se
deixe fotografar elevando a vacina chinesa como um troféu, como fez João Dória
- governador de São Paulo (16/10/2020 - Gazeta de São Paulo) e há o presidente
Jair Bolsonaro que imprime uma onda de insegurança quanto ao real valor que
será se vacinar, declarando não ser obrigatória e dizendo em entrevista à Rádio
Jovem Pan, (21/10/2020), que: "A da China, nós não compraremos, é decisão
minha". Com isso, o conflito já se instalou nas pessoas e, certamente,
levará às baixas adesões ao programa vacinal, consequentemente, menor controle
da disseminação da Covid-19.
Gerar
conflitos fantasiosos, tornando os brasileiros ainda mais vulneráveis à
pandemia, tem sido tarefa primordial do nosso presidente: era uma vez a
cloroquina e agora tenta minar a vacina chinesa. Não conseguirá porque,
felizmente, temos no Brasil quem garanta aos brasileiros a segurança no uso dos
imunobiológicos (vacinas) que são: os institutos: Butantan e Bio-Manguinhos -
Fiocruz, que produzem todas as vacinas do Programa Nacional de Imunização do
SUS - Ministério da Saúde (PNI-MS) e que recebem o selo de segurança e eficácia
da Anvisa. Vamos então, arcebispo Dom Orani, entregar a "Chama da
Esperança" às instituições que garantirão ao povo, a proteção certa de que
precisa, contra a Covid-19. A pira e o pódio provavelmente serão delas.
(*) Médica pneumologista; coordenadora do Pulmocenter; membro da Academia Cearense de
Medicina.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 10/11/2020. Opinião.
p.16.
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