quinta-feira, 30 de setembro de 2021

APRENDENDO A JOGAR

Por Sofia Lerche Vieira (*)

A festa da Olimpíada acabou. Passado o bastão de Tóquio para Paris, agora é esperar 2024 e dias melhores para todos. O sax do astronauta francês, Thomas Pesquet, tocando a Marselhesa do espaço promete.

Uma olimpíada tem sempre muito a ensinar sobre coisas que o ser humano precisa aprender. Resiliência é uma delas. Cair e levantar sempre.

Consciência de que a derrota pode abrir caminho para a vitória. Conhecer os limites do corpo e ir além. Saber que o cérebro está no comando. E que a saúde mental importa.

Comparado com desempenhos anteriores, o Brasil se saiu bem nessa olimpíada. Mostramos a cara de um país diverso, onde minorias revelam seu brilho no esporte.

Atletas que, sob condições as mais adversas, chegaram ao pódio inspiram uma juventude carente de exemplos e lideranças.

Em todas as esferas da vida, perder nunca é fácil. Mas é aprendizagem que se impõe. Os incontáveis testemunhos de brasileiros vencedores e vencidos, oferecem preciosas lições sobre a matéria.

Se para uns, o simples chegar à olimpíada é prêmio, para outros, a derrota tem amargo sabor.

Dentre tantos fatos memoráveis, fiquemos com dois: a vitória de Isaquias Queiroz na canoagem e a derrota de Gabriel Medina no surf. O primeiro expressou um Brasil que honra a si próprio, dedicando sua medalha aos que se foram ceifados pela Covid 19. Ganhou na raia e conquistou o coração de milhares de compatriotas, tão carentes de ídolos nesses tempos sombrios.

A performance do segundo, campeão mundial do surf, foi triste não apenas pelas ondas perdidas.

Sozinho com sua prancha, saiu de cena, sem se deter para prestigiar Ítalo Ferreira, que arrebatou a medalha de ouro. Sem sequer ter se vacinado, até mesmo da próxima etapa do mundial estará ausente.

Terminado o sonho, o retorno à normalidade se impõe. Passados os dias alegres, é retomar a CPI da Covid, o ácido sabor dos dias que correm e seguir em frente.

Lembrando que, como a resiliência, humildade na vitória e dignidade na derrota são sinais de sabedoria. Como nos versos cantados por Elis: "Nem sempre ganhando / Nem sempre perdendo / Mas aprendendo a jogar".

(*) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 16/08/21. Opinião, p.22.

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