Por Luiz
Gonzaga Fonseca Mota (*)
Há
algum tempo ocorreu o trágico falecimento do Dr. Ulysses Guimarães. Pouco vem
sendo lembrado. Lamentavelmente, nós, brasileiros, temos memória curta. Quantas
biografias ilustres fazem-se apenas das circunstâncias: o senador, o deputado,
o presidente... Na biografia de Ulysses Guimarães, a eminência do homem apaga o
brilho das circunstâncias por maior coruscantes sejam as luzes destas. Ante
Ulysses, carece de importância o ministro da Indústria e Comércio, deputado,
presidente da Constituinte, presidente da República ou qualquer outro galardão
da glória e do poder. O perfil de Ulysses Guimarães é o perfil do Brasil das
liberdades. Sempre defendeu um Brasil rico, com justiça. A integridade pessoal,
a coerência política, a coragem cívica e a obstinada tenacidade na construção
de uma nação maior são os elementos de que se utilizou para compor, aos olhos
dos brasileiros, a figura do gigante que se alteia sobre os outeiros da Pátria
e projeta esperança no futuro. Lembro-me do Dr. Ulysses nos anos de 1984 e
1985, dando continuidade ao trabalho sério, com desprendimento e espírito
público; de redemocratização do Brasil. Naquela época tinha a honra de governar
o Estado do Ceará e participava de reuniões ao lado de Tancredo Neves,
Aureliano Chaves, Ulysses Guimarães, Marco Maciel, Franco Montoro, José Richa e
tantos outros políticos que representavam o desejo e a esperança da população
brasileira. Ulysses e Aureliano eram os dois principais articuladores do
movimento que originou a Aliança Democrática, garantindo a eleição do
inesquecível Tancredo Neves para presidente da República. Há, porém, um
instante ainda mais alto, o gesto é triunfante: a Constituição cidadã erguida,
em 1988, no Plenário da Câmara dos Deputados. Eis pois Ulysses Guimarães: já
História. É um monumento vivo entre nós, não do passado, das coisas já feitas.
É, antes, a vanguarda de nossos sonhos do Brasil maior e democrático, que temos
de construir. Não poderemos nunca deixar de homenagear e lembrar, em razão de
suas ideias e do seu elevado espírito público, o maior líder brasileiro da
segunda metade do século XX. Nossos jovens precisam conhecer a verdadeira
história contemporânea do Brasil.
(*) Economista. Professor aposentado da UFC.
Ex-governador do Ceará.
Fonte: Diário do Nordeste, Ideias. 17/9/2021.
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