segunda-feira, 27 de setembro de 2021

SUAS IDEIAS FAZEM FALTA

Por Luiz Gonzaga Fonseca Mota (*)

Há algum tempo ocorreu o trágico falecimento do Dr. Ulysses Guimarães. Pouco vem sendo lembrado. Lamentavelmente, nós, brasileiros, temos memória curta. Quantas biografias ilustres fazem-se apenas das circunstâncias: o senador, o deputado, o presidente... Na biografia de Ulysses Guimarães, a eminência do homem apaga o brilho das circunstâncias por maior coruscantes sejam as luzes destas. Ante Ulysses, carece de importância o ministro da Indústria e Comércio, deputado, presidente da Constituinte, presidente da República ou qualquer outro galardão da glória e do poder. O perfil de Ulysses Guimarães é o perfil do Brasil das liberdades. Sempre defendeu um Brasil rico, com justiça. A integridade pessoal, a coerência política, a coragem cívica e a obstinada tenacidade na construção de uma nação maior são os elementos de que se utilizou para compor, aos olhos dos brasileiros, a figura do gigante que se alteia sobre os outeiros da Pátria e projeta esperança no futuro. Lembro-me do Dr. Ulysses nos anos de 1984 e 1985, dando continuidade ao trabalho sério, com desprendimento e espírito público; de redemocratização do Brasil. Naquela época tinha a honra de governar o Estado do Ceará e participava de reuniões ao lado de Tancredo Neves, Aureliano Chaves, Ulysses Guimarães, Marco Maciel, Franco Montoro, José Richa e tantos outros políticos que representavam o desejo e a esperança da população brasileira. Ulysses e Aureliano eram os dois principais articuladores do movimento que originou a Aliança Democrática, garantindo a eleição do inesquecível Tancredo Neves para presidente da República. Há, porém, um instante ainda mais alto, o gesto é triunfante: a Constituição cidadã erguida, em 1988, no Plenário da Câmara dos Deputados. Eis pois Ulysses Guimarães: já História. É um monumento vivo entre nós, não do passado, das coisas já feitas. É, antes, a vanguarda de nossos sonhos do Brasil maior e democrático, que temos de construir. Não poderemos nunca deixar de homenagear e lembrar, em razão de suas ideias e do seu elevado espírito público, o maior líder brasileiro da segunda metade do século XX. Nossos jovens precisam conhecer a verdadeira história contemporânea do Brasil.

(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do Ceará.

Fonte: Diário do Nordeste, Ideias. 17/9/2021.

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