Por Célia Perdigão (*)
Meus nomes: Encanamento,
Bandeira, Clóvis Beviláqua. Bem cuidada da General Clarindo a Antônio Pompeu.
Incorporaram as Caixas d'Água, Faculdade de Direito e reservatório soterrado
inoperante. Ocupar praças, uma antiga mania local.
E hoje? Hospitais,
antigas residências, templos religiosos e maçonaria, preservados. Em
contraponto, muitas edificações atrás de seculares fuligens, sujidades e
gigantes letreiros. Olho pra dupla do direito. Cadê a respeitável sede de um
curso secular? Não se orgulharia de mirar-se no espelho. Vislumbraria a imagem
do Largo de São Francisco. Merecia um tratamento a altura de sua importância
social e simbólica. Vejo os irmãos em situação de rua. Literalmente pendurados
na Faculdade e na área escavada. Urgente tratar esses problemas. Não é ali que
as Leis são lecionadas?
Sinto o equivocado baixo
relevo da Cagece e sonho que a empresa irá se redimir do desmantelo promovido,
recompondo a outrora área verde até as Caixas d'Água. Já o humilhado Clóvis
Beviláqua merecia tratamento digno.
Volto-me afinal para as
Caixas d'Água, seus muros e pequeno anexo art déco. Quanto abandono! Trechos
destruídos, fuligem, árvores decepando muros. Algo muito grave em curso.
Derrubada de muros e "restauração", inserindo novas paredes e usos.
Sei que os espaços vazios são tão importantes quanto os cheios. Aliás, sem os
primeiros, não existiria sequer distanciamento para vivenciar os últimos. Os
volumes em tela se expressam sobretudo pelos vazios, criados pelos pilares e
vergas de concreto. Acima da trama pousam os massivos reservatórios, bem
proporcionados. Delicadas armações de ferro abraçam as caixas na direção da
trama. Tudo compõe a linguagem leve e transparente. Afinal, com seus volumes
sublinhados pelos vazios, preenchê-los seria cancelar sua forma de ser.
Restauração equivocada.
Há tempos aguardo um
restauro cercado de jardins. Obras, apenas de conservação, com realces
luminotécnicos. Pela monumentalidade, resistência, memória, transparência,
referencial urbano, leveza, singularidade e beleza. Não basta?
(*) Arquiteta. Especialista em história e conservação de monumentos
antigos na França.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 3/02/24. Opinião, p.20.
Nenhum comentário:
Postar um comentário