As sílabas que se evolam de verso e prosa
Recorte da capa concebida por Isac Furtado |
Chega, agora, ao número 29, a antologia que, anualmente, reúne textos da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores
A organização desses escritos coube a Marcelo Gurgel e a Ana Margarida Furtado Arruda. Como introito, os leitores se dão conta de que a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames) nasceu, enquanto agremiação nacional, há cerca de trinta anos, possuindo filiais na maioria das unidades da Federação. A Regional do Ceará destaca-se, dentre outros motivos, por ser uma das mais atuantes, dentre as demais do País, por conta das inúmeras atividades que desenvolve, como palestras, lançamentos de livros e reuniões sistemáticas. A sua primeira antologia data de 1981, comportando o seguinte título: Verde Versos. Assim, dava-se início a uma jornada frutífera, através da qual seus integrantes poderiam, por meio de uma expressão impressa, levar ao público diversos gêneros em prosa e verso, com destaque para a crônica, o conto e a poesia.
Detalhe da capa da antologia "Murmúrios Literários", obra que reúne os escritos em pros a e verso (crônica, conto e poesia) dos membros da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Ceará
O prefácio
Coube à acadêmica Regine Limaverde o prefácio a essa obra. A princípio, ela discorre acerca do curioso título Murmúrios Literários: "Murmúrio é um substantivo que pode ter uma interpretação poética. Quando um médico fala de murmúrios pode estar se referindo a murmúrios pulmonares, um barulho, um crepitar, um sopro que indica que o paciente está vivo. E é isto que os médicos escritores estão fazendo: murmurando que estão vivos. Que não são deuses, que são humanos, que se enternecem com a família dos pacientes, que amam como todos os mortais, que escrevem poesias de amor, que sofrem dores e que também sentem saudades. Dizem-nos que podem sorrir de alegria, que gargalham e contam história. Esta antologia faz uma homenagem a dois escritores que morreram recentemente: Hamilton Monteiro e Aírton Monte. Acerca do primeiro, Geraldo Beserra ressalta que Hamilton Monteiro "foi sempre um poeta voltado para o sonho de um mundo socialmente justo, onde todos tivessem igualdade de oportunidades. Sua poesia sempre combateu as injustiças sociais - em um país como o nosso - sempre foi um semeador de utopias. Mas não foi somente o poeta social por excelência. Cantou o mar, cantou o amor, as delícias da noite, da vida boêmia, também a família cantou. Sempre falando de sonhos, sempre a semear utopias".
O acadêmico José Telles, por sua vez, escreve acerca de Airton Monte: "Adeus Airton / hoje morre o canto / morre o conto / morre a palavra poesia / morrem todos os boêmios / em suas epifanias / só não morrem alguns acadêmicos / epidêmicos / endêmicos / com seus olhos avinagrados / fartos do acre silêncio do remorso". Ambos põem em relevo as virtudes da escritura de cada um deles. Mergulham com proficiência nas produções em prosa e verso.
Considerações finais
Comportando textos em prosa e verso, a antologia da Sobrames dá continuidade a uma das mais fortes tradições de Fortaleza: a de costumeiramente reunir em um único volume os escritores das mais variadas tendências e gêneros. O leitor, assim, pode percorrer o universo de crônicas, que, a partir das banalidades do cotidiano, dão brilho ao que poderia passar anônimo por olhos profanos. Os contos, por conta de sua própria natureza, percorrem o perene humano no drama da existência, descortinando almas, pondo o homem diante de seu duplo. A poesia, com seus jogos de armar, desconcertando as palavras, faz surgir a música e, evidentemente, o que nos encanta e nos emociona.
LIVRO
Murmúrios Literários / Sobrames
CARLOS AUGUSTO VIANA / EDITOR
Publicado In: DN, 01.12.2012
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