domingo, 2 de dezembro de 2012

O ENTERRO DE UM FUNDADOR

Corriam os anos setenta, do século antanho, quando a comunidade médica e a sociedade locais foram colhidas pelo abrupto falecimento de um dos fundadores da primeira Faculdade de Medicina de um estado nordestino.
À beira do túmulo, sem pedir licença a ninguém, um antigo catedrático da escola médica, possuidor de grande erudição, resolveu fazer uso da palavra e tome a falar, discorrendo sobre os feitos do falecido, enaltecendo suas valorosas qualidades.
Falou tanto, que só faltou dizer que o morto, como sempre, estava na vanguarda institucional, e que, logo mais, seria seguido por seus colegas docentes, que fariam companhia a ele, na morada eterna.
Após mais de uma hora de laudatório, no campo santo, com o sol a pino, pois chegara o meio-dia, com os presentes suando a cântaros, os coveiros, cansados de esperar, encostaram suas pás e foram descansar sob a sombra de uma árvore.
O receio era de que o extinto, a qualquer instante, decidisse despertar do sono da morte, rogando que o fastidioso discurso fosse interrompido, deixando-o, finalmente, descansar na eternidade, liberando, assim, familiares e amigos de tão demorada cerimônia fúnebre.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Da Sobrames/CE e da ABRAMES
* Publicado, originalmente, In: SILVA, M.G.C. da. Medicina, meu humor! Fortaleza: Edição do Autor, 2012. p.77. Republicado In: SOBRAMES – CEARÁ. Murmúrios literários. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão, 2012. 296p. p.230.

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