Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
Costumo recorrer nos meus artigos de jornal, a citações
frequentes, não apenas como adorno do texto, mas como seu apoio. A citação nada
mais é, por vezes, do que um pensamento coincidente, indicativo de que outro
escritor, antes de nós, pensou o que também pensamos, e lhe deu forma, com a
vantagem da precedência. Estas duas frases foram escritas pelo grande
romancista maranhense Josué Montello (1917-2006), no Jornal Brasil de
21/4/1981. Dele são os magistrais romances “Tambores de São Luis”, e “Degraus
do Paraíso”, ambos (como quase todos seus) ambientados naquela cidade.
Outro dia, leitor indagado se teria lido meu artigo mais
recente, respondeu sim, contudo deplorando o número de citações. Tal
estranhamento é comum entre os “opsímatas”. Êpa! O termo deriva do grego “opse”
= tardio, e “mathe” aprendizado. Embora ausente dos léxicos brasileiros mais
conhecidos, já constava da 11ª edição do “Dicionário de Língua Portuguesa”, de
Cândido de Figueiredo (Editoras Bertrand & Jackson, Inc, Lisboa, 1949).
Denomina os que chegaram tarde à literatura, não às primeiras letras.
Curiosamente Ralph Waldo Emerson, famoso poeta, ensaísta e filosofo
norte-americano (1803-1882) afirmou ter ódio às citações. Não obstante declarou
que por necessidade, tendência, ou prazer, todos nós citamos.
Alguns autores não citam para afetar erudição, como se o
que escreveram fosse originalmente deles; outros citam em demasia, para
afetá-la ainda mais. Há muito tempo lendo poemas de Augusto Frederico Schmidt
(Rio de Janeiro, 1906-1965) deparei a frase “viver é mais fácil do que o
sânscrito, a química, ou a economia política”. Trata-se aqui de uma tradução
servil pois literal (“ipsis litteris”) de “Aldous Huxley” , em “Point Counter
Point”. Eis um exemplo de apropriação indébita, pirataria literária.
O brasileiro – talvez sub-estimando o conhecimento do
leitor - plagiou o inglês, este em livro bem anterior ao seu. Seria um
mimetismo (imitação) inconsciente? Temos que as citações excitam a mente,
criando curiosidades quanto ao autor e/ou ao tema. Assim, aumentam o patrimônio
intelectual do leitor. Neste sentido Winston (Leonard Spencer) Churchill
(1874-1965), também Prêmio Nobel de Literatura (1953) aconselhava às pessoas
menos letradas lerem livros de citações (“My Early Life”). Contudo, estas devem
ser feitas apenas quanto basta. No Brasil, celebrado críitico literário
carioca, Guilherme Merquior (1941-1991) (22 títulos), já reconhecido aos 18
anos, citava exageradamente, e às vezes não conseguimos identificar o que é seu
ou dos escritores referendados.
Aliás afirma-se, por ironia que roubar palavras de outrem
é plágio, mas quando de inúmeros outros é pesquisa! Os latinismos, embora não
nos apercebamos, são sempre eloquentes nas citações, e úteis, nos ensinando
como falar corretamente. Diz-se “procrastinação” (adiamento), com “r”, porque
“cras” significa “amanhã” em
latim. Não é obrigado sabermos latim, mas deplorável tê-lo
esquecido por completo. Por alguns reconhecidas como línguas mortas, o grego e
o latim perpetuaram-se, ecoando em outros idiomas como português, espanhol,
italiano, francês, romeno. Língua morta, propriamente dita, nem a do Onassis!
(*) Médico,
ex presidente e atual secretário geral da Academia Cearense de Letras.
Fonte: O Povo,
Opinião, de 5/2/2014. p.4.
Nenhum comentário:
Postar um comentário