Até que enfim, depois de tanto abusar da
nossa paciência, por um período correspondente a uma gestação humana, chega a
termo uma trama mal urdida, que bem merecia ter sido abortada, mercê das suas
incongruências e das aleivosias assacadas contra a sociedade e, em especial, os
profissionais de saúde deste País.
Desde o seu início, em maio de 2013, a novela “Amor à Vida”
ocupava o horário nobre de uma rede de televisão, retratando uma estória de
ficção que beira o fantástico, ou quiçá o escabroso, por tão inverossímil
arcabouço.
O cenário de base é um hospital particular,
estranhamente qualificado como filantrópico, com supostas atividades sociais
para justificarem a benemerência e, assim, receber as benesses algo “pilantrópicas”.
É incrível que um hospital privado, com a hipertrofia da atividade-meio,
constatada por tantos funcionários administrativos, em detrimento de sua
atividade-fim, pois o que menos se vê em cena é paciente, consiga sobreviver ao
tempo de duração desse folhetim, sem ter experimentado à bancarrota, mormente
diante da riqueza ostentada por seus proprietários, acionistas e dirigentes,
advinda de pro labore ou de
participação em lucros e resultados.
Os personagens, dos núcleos rico ou pobre,
guardam uma relação, direta ou indireta, com o Hospital San Magno, um
verdadeiro antro de práticas sexuais entre os seus funcionários, que mais assemelha
um lupanar ou um prostíbulo decadente. Eram médicos assediando enfermeiras, e
vice-versa, culminando, invariavelmente, no tálamo das relações consentidas,
mas livres das amarras do amor.
Além das questões pessoais, e do campo
afetivo, a novela buscou revelar a sordidez e a incompetência dos profissionais
de saúde, e, especialmente, a dos médicos, trazendo à baila ações que violam os
códigos de ética profissional e as leis vigentes no Brasil, pintando um cenário
extremamente desabonador da prestação de serviços de saúde.
Longe querer ver chifres em cabeça de
cavalo, pode até ser uma mera coincidência, mas o governo brasileiro parece ter
aproveitado esse terreno minado, carrascal, em que a imagem médica estava
enxovalhada, para agir como algoz da medicina e das leis nacionais, ao impor o
Programa Mais Médicos, importando médicos cubanos, sem a validação dos seus
diplomas, e descumprindo as mais comezinhas leis trabalhistas, vigorantes aqui
e alhures.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Professor titular de Saúde Pública-Uece
* Publicado In: O Povo, de 3 de fevereiro de 2014.
Opinião. p.13.
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