quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

MÍDIA, TV, GAMES E CONTEXTO SOCIAL




Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
A legislação brasileira considera como criança a pessoa com idade entre zero e doze anos, passível apenas da aplicação de medidas protetoras quando comete infração (delinquência) ou se encontra em situação de risco, de acordo com o art. 101 da Lei n. 8069/90, que é o Estatuto da Criança e do Adolescente. Na adolescência, por sua vez, enquadram-se as pessoas entre os doze e os dezoito anos, que são sujeitas à aplicação das mesmas medidas protetoras e ainda à aplicação de medidas socioeducativas (art. 112 do mesmo Estatuto da Criança e do Adolescente).
“Não creio que Caim tenha se inspirado na televisão ou em jogos de computador, para matar seu irmão Abel... ou que Nero tenha incendiado Roma por culpa de algum game”. A questão da influência da televisão ou dos games na conduta das crianças, especialmente levando-as a condutas violentas, é controversa. A maioria dos estudos assevera que crianças do sexo masculino tendem a imitar as ações violentas que veem na TV e em outras parafernálias eletrônicas. Tendem a ser mais complacentes com a agressividade e tendem a desenvolver outras formas de violência.
Além disso, tem-se observado que os meninos agressivos normalmente escolhem programas mais violentos e que há mais meninos adictos a esses programas que meninas. Porém, nem todas as investigações confirmam tais observações. Há estudiosos que atribuem o suposto impacto da TV e dos games como um auxílio à compreensão e interpretação da criança sobre o que aparece na tela, seja da televisão ou de um game.
Os games bélicos também são frequentemente relacionados com o desenvolvimento de condutas violentas. Outros opinam que não exercem qualquer influência. Outros ainda acham que tais jogos empobrecem a imaginação e ensinam conceitos belicosos. Há quem creia que estes jogos têm até uma função catártica ou terapêutica sobre o potencial agressivo natural das pessoas.
As atitudes competitivas (agressivas ou não) que são mostradas nesses jogos guardam relação com os adversários com quem se esteja jogando ou com o tipo de jogo que se utiliza e, apesar de estimularem a luta entre meninos (mas não entre meninas!), só se constata o aumento da agressividade durante ou imediatamente após o jogo. Essa agressividade parece não se manter em outras situações e nem repercutir em longo prazo.
Ter uma perspectiva decisória vaga para a identificação de games violentos e julgá-los como inaceitáveis podem trazer consequências imprevisíveis, pois quem acusa esses games e pede seu controle governamental o faz por precaução, mas repito, até hoje, não há provas contundentes sobre os malefícios desses games, e digo: muito mais perigosa pode ser a invasão da privacidade dos que jogam, o que me cheira a censura, cerceamento à liberdade da imprensa e outras coisas graves.
E qualquer coisa que lembra, mesmo de longe, a censura é uma monstruosidade e um atentado contra o pensamento, é um crime de lesa-humanidade. Acusar é muito fácil. Principalmente diante dos avanços que romperam a velha ordem mumificada. Tristes dos engessados. Eles estão mortos e não o sabem.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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