O PT foi criado
para ser “um partido diferente”, mas se transformou “numa fábrica de fazer
dinheiro”, onde agora “só existe militância remunerada” e muitos “usam seus
mandatos” para “enriquecimento pessoal”, causando prejuízos à sua imagem.
Não foi por acaso
que, “na comemoração da CUT pelo Dia do Trabalho”, um evento com diversas
atrações musicais e raros discursos, “os políticos do partido”, quando
anunciados, “foram recebidos com vaias e alvejados por latas e garrafas”.
Peguei pesado? O
texto não é meu. Foram palavras de Lula no recente encontro nacional do PT.
Palavras ao vento, por sinal: foi ele mesmo o artífice das estratégias que
deram hegemonia a seus governos ao preço de sua própria história.
O PT não se
transformou nessa coisa que seu principal líder descreve como uma deformação
por uma amoralidade inata de seus filiados. E como não é fenômeno de geração
espontânea, tampouco pode ser drenado agora por um ato de sua vontade.
Em seu discurso,
Lula exortou as lideranças petistas a recuperar a credibilidade perdida: “É
preciso voltar a falar grosso”, apelou. Ora, a credibilidade do PT não era
decorrente do timbre másculo de seus arautos, mas de uma ação coerente.
O Lula imagina que
pode tudo: ele, que já admitira como “bravatas” o discurso anterior do partido,
julga-se agora capaz de dar um Ctrl+Alt+Del na História, apagando o registro de
atos que o conduziram à negação de seu propósito.
Quando dissocia a
constatação dos desvios partidários de sua verdadeira origem, Lula mira para o
PT uma espécie de refundação meramente simbólica, descolada de uma revisão
crítica mais consequente. Um artifício meramente eleitoreiro.
É como se pedisse a
seus companheiros que exibam, agora como máscara, aquela que já fora a face
real do partido. Faz isso como apelo final em nome de uma tradição que ele
mesmo solapou: para o Lulismo nascer, foi preciso matar o petismo.
No fundo, é como se dissesse: "A coisa não vai bem, mas finjam que nada aconteceu e evitaremos o estouro da boiada. As conquistas sociais nos darão uma sobrevida: teremos mais quatro anos de poder e, depois, salva-se quem puder".
(*) Jornalista e
escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre
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sem dono. Se gostou, passe adiante.
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