Prof. Cajuaz Filho (*)
O Diário do Nordeste, em sua edição de 7 de maio de 2014, publicou uma
notícia com a seguinte manchete: O governo do Estado descumpre decisão do STF
há dois anos.
Dela pincei os seguintes tópicos:* “Há pelo menos 2 anos, o governo
do Estado do Ceará está descumprindo uma decisão do Supremo Tribunal Federal.” *
“Em janeiro de 2013, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro
Joaquim Barbosa negou pedido de recurso do estado.”
Essa notícia fez-me reportar à ação do piso salarial dos
professores das Universidades Estaduais do Ceará iniciada na justiça, nos idos
de 1987 e que vive a mesma situação.
Será mera coincidência o que está também acontecendo com os professores?
Há sete anos, os professores esperam a execução da sentença
transitado em julgado em 2007, iniciada e, logo depois, suspensa por recursos
do Estado que não se cansa de interpô-los, todos eles protelatórios, em
descumprimento da decisão do STF.
O mal do governo não é a falta de persistência, ele é persistente
demais, mas é a persistência na falta. É o mesmo que dizer: Errar é humano, permanecer
no erro é ... burrice. Reconhecer o erro e mudar é ter dignidade, humildade e
hombridade.
Os professores ganharam. O Estado foi condenado. Agora, única
saída: cumprir, com dignidade, a decisão do STF. Não o fez. Multas foram-lhe
aplicadas. Mesmo assim, o descumprimento.
A trilogia do poder reduziu-se a uma monologia. Parece-me que os
outros dois poderes são subservientes ao Executivo. Por quê?
Não é coincidência, pois o dia a dia está a nos mostrar que o
Estado é useiro e vezeiro, isto é, tem por hábito fazer a mesma coisa repetidas
vezes, em descumprir as decisões do Poder Judiciário e o pior: sem punição
alguma.
Por quê?
Será que o Poder Judiciário não tem meios de fazer cumprir suas
decisões ou só os tem para oprimir os oprimidos?
Será que os administradores da justiça se esqueceram de que condenar
o inocente é pior que absolver o condenado?
Será que caiu no esquecimento, para beneficiar outros, o que disse o
Águia de Haia: Justiça tardia nada mais é que a injustiça institucionalizada?
Não quero dar resposta afirmativa a estas interrogações, mas fico
pensando que o Barão de Itararé está falando a verdade: “Há qualquer coisa no
ar além dos aviões”, pois, se já se tem, na Justiça, provável caso de venda de
habeas corpus, pode-se chegar à conclusão de que todo homem que se vende recebe
mais do que vale e de que, com tristeza afirmo, tudo é possível neste mundo de
meu Deus.
Se a ação levou vinte anos para ser decidida, será que os
professores teremos que esperar outros vinte para vê-la executada porque o
Poder Judiciário fica à toa, na vida, somente vendo a banda passar?
Se isso ocorrer estaremos todos, os substituídos, nos páramos
celestiais, gozando da visão beatífica.
Mas... se não há nenhuma iniciativa do Executivo em cumprir a
decisão do STF, nem do Judiciário em fazê-la cumprir, a notícia conclui com uma
sugestão do ínclito defensor público da Defensoria Pública da União, Feliciano
de Carvalho, dada, talvez a título de gozação, mas muito sincera, para a
solução daquele caso, valendo também para o dos professores: “Poderia ser
utilizado o dinheiro de campanhas publicitárias e de comemorações da
administração pública, já que não são tão especiais como a dignidade dessas
pessoas.”
(*) Professor aposentado da Uece. Editor de APESC Notícias.
Um comentário:
http://umhomemdescarrado.blogspot.com.br/2011/11/quem-ha-de-punir-o-estado.html
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