Por Gustavo Maia
Até as 16h20, mais de R$ 2.100 já haviam sido
arrecadados
Uma vaquinha
virtual foi lançada na tarde desta terça-feira (4/11/14) para ajudar a agente
da Operação Lei Seca Luciana Silva Tamburini a pagar a indenização de
R$ 5.000 ao juiz João Carlos de Souza Corrêa, hoje titular do
18º JEC (Juizado Especial Criminal) do Rio de Janeiro. Pouco
mais de quatro horas depois da criação da página, no site "Vakinha",
já haviam sido arrecadados cerca de R$ 2.800, mais da metade do valor total.
Luciana foi
condenada por danos morais na última semana por conta de uma abordagem
realizada durante uma blitz da Lei Seca na capital fluminense em 2011. De
acordo com decisão, em primeira instância, da 36ª Vara Cível do TJ-RJ (Tribunal
de Justiça do Estado do Rio), a servidora pública "agiu com abuso de
poder" e "zombou" do magistrado ao afirmar que ele "era juiz,
mas não Deus". Corrêa estava sem a carteira de habilitação, com o carro
sem placa e sem documentos quando foi parado. O veículo do magistrado, que era
titular da 1ª Vara da Comarca de Búzios, foi rebocado.
Segundo a denúncia,
houve um desentendimento verbal entre os dois e o caso foi parar na 14ª DP
(Leblon). Luciana chegou a receber voz de prisão por desacato, mas se negou a
ir à delegacia em um veículo da Polícia Militar. "Ao apregoar que o
demandado era 'juiz, mas não Deus', a agente de trânsito zombou do cargo por
ele ocupado, bem como do que a função representa na sociedade", escreveu o
desembargador José Carlos Paes, da 14ª Câmara Cível do TJ-RJ, que manteve a
condenação em segunda instância.
A advogada paulista
Flavia Penido, criadora da vaquinha, justificou a iniciativa dizendo que a
decisão "é um acinte a todos aqueles que defendem o direito de
igualdade". A página ganhou o nome de "A divina vaquinha", uma
referência irônica ao fato de que a agente disse que o juiz não é Deus. A
advogada também propôs que a hashtag "#juiznaoehdeus" fosse
compartilhada para divulgar a vaquinha. Dezenas de usuários da rede já haviam
replicado o termo pedindo apoio para a agente.
"O pessoal
está indignado. Eu, como cidadã, também fiquei. Como advogada, eu achei a
decisão do tribunal digna de muitas críticas. Pode-se questionar se foi certo
ou não ela ter dito que ele era juiz, mas não Deus, mas na hora que a gente
confronta as duas atitudes é óbvio que ele estava errado", afirmou Flavia,
que atua na área de direito digital.
Segundo a advogada,
o objetivo da iniciativa não é apenas ajudar a agente financeiramente. "A
intenção também foi dar suporte emocional a ela, fazê-la perceber que a atitude
dela não foi em vão, que ela não está sozinha", disse. Flavia contou ainda
que entrou em contato com a tia e advogada da agente e se colocou a disposição,
junto a outros colegas, para dar apoio jurídico, se ela necessitar.
Satisfação
Quando a
arrecadação da vaquinha já havia alcançado metade do valor pretendido, às 17h,
Flavia afirmou que não esperava um resultado tão rápido, mas disse estar
satisfeita e "muito feliz".
"Está tendo
uma repercussão muito grande. Já estou muito feliz e vou ficar muito mais se
conseguir o total ainda hoje. Foi a primeira vez que eu fiz uma vaquinha na
vida. Nem sabia mexer na ferramenta, mas valeu a pena", declarou a
advogada.
Para ela, é
importante que o Judiciário perceba que a sociedade está atenta ao seu
trabalho. "É um tapa com luva de pelica", resumiu.
Fonte: Do UOL, no Rio 04/11/2014 16h30
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