Comissárias narram situações
inusitadas vividas a bordo
Por Marina Oliveira e Thaís Macena
Ser comissário de voo é tudo de bom, afinal, eles podem
viajar para onde quiserem. E de graça! Você já deve ter ouvido alguém dizer
isso – ou pode até mesmo ter falado algo parecido. Por conta dessa imagem que
se criou em torno da profissão, muitos jovens decidem investir na carreira. Mas
só quem trabalha a bordo de um avião sabe que, a exemplo de qualquer outro
trabalho, este também é cheio de desafios.
Para começar, os comissários têm que lidar com uma
infinidade de pessoas todos os dias, dos mais diferentes perfis. Diante disso,
não é de se estranhar que eles tenham muitas histórias para contar. O UOL
Viagem conversou com profissionais do ramo e publica aqui algumas
dessas aventuras. Os nomes dos entrevistados foram trocados para preservar a
identidade deles.
5 Medo de voar
"Estava num voo de São Paulo para Fortaleza quando
um rapaz turco foi para o final do avião pedir um copo de água. Ele tinha
horror a voar e havia esquecido seu calmante na mala despachada. Como eu era a
única mulher na tripulação, ele só teve coragem de conversar comigo. Assim, os
outros comissários saíram para realizar o serviço de bordo e eu fiquei cuidando
dele. Mas como ele andava muito de um lado para o outro, começou a assustar os
outros passageiros, que já estavam comentando. Para piorar, ele começou a
reclamar de palpitação e a dizer que estava passando mal. Eu achei que teria
que declarar uma emergência ali mesmo. Por sorte, havia um médico a bordo, que
falava inglês e que se ofereceu para ajudar. Mais sorte ainda porque era um
cardiologista. Ele examinou o outro passageiro e concluiu que os sintomas eram
resultado de puro nervosismo. Para ajudar, o médico sugeriu que o turista se
sentasse ao lado dele, onde o turco permaneceu tranquilo por mais duas horas de
voo."
Ana*, 23 anos, mora no Rio de Janeiro. Foi comissária de
voo durante três anos e meio.
6 Era para ser engraçado?
"Era meu primeiro voo para a Rússia e eu estava
empolgada para conhecer o país. Foi então que, alguns minutos após o avião
decolar, eu estava preparando o serviço de bordo e um passageiro da poltrona
23K tocou a campainha e me chamou. Fui até ele e perguntei o que desejava. Ele
era muito educado e atraente. Me pediu um copo de leite. Eu expliquei que,
naquele serviço, não serviríamos leite, mas eu tentaria fazer o possível para
conseguir atendê-lo. Fui até a primeira classe, enchi um copo de leite integral
e voltei. Quando entreguei o pedido, ele me disse, com um sorriso sarcástico:
'Desculpe, mas eu queria do seu peito'. Sem saber como reagir, eu respirei
fundo e disse que não estava mais amamentando."
Cibele*, 24 anos, mora em Dubai. É comissária de voo há quatro anos.
7 De cortar o coração
"Estava num voo do Recife para São Paulo, quando
notei uma senhora muito triste, com os olhos cheios de lágrimas. Preocupada, me
sentei ao lado dela e perguntei se ela viajava sozinha. Em meio a uma crise de
choro, ela me contou que estava voltando para casa de uma viagem que havia
feito com o marido. Para acalmá-la, eu fui buscar um copo de água. Quando
voltei, ela continuou a me contar a sua história. Disse que aquela tinha sido a
primeira viagem de avião deles, um presente dos filhos, por ocasião dos 25 anos
de casamento dos pais. Só que no segundo dia do passeio o marido havia sofrido
um mal súbito, vindo a falecer. O corpo dele estava sendo levado no porão do
avião. Segurando as lágrimas para não chorar também, eu fiquei ao lado dela por
um bom tempo, todo o tempo que foi possível."
Camila*, 35 anos, mora em Santo André. É comissária de
voo há 13 anos.
8 Viagem em alta tensão
"Eu já estava na terceira viagem do dia, de São
Paulo para Brasília. Quando me aproximei do avião, percebi que havia muitos
carros de polícia ao redor. Cheguei a pensar que transportaríamos algum
político. Mas, quando entrei na aeronave, policiais me revistaram e me explicaram
o que estava acontecendo. Na realidade, iríamos levar um preso para depor, além
da esposa dele. Ele ficaria algemado, na última fileira, entre dois policiais à
paisana. Ela seguiria sem algemas, mas também com duas policiais à paisana, na
parte da frente da aeronave. Outros três policiais à paisana, armados, estariam
sentados em diferentes partes do avião. Fomos orientados a reportar qualquer
atitude estranha dos passageiros a bordo. O voo estava lotado e foi muito tenso
para toda a tripulação. Na hora de oferecer a refeição, eu precisei cortar a
carne dele antes de entregar, já que ele estava algemado. Por fim, tudo correu
bem e os passageiros nem perceberam o que estava acontecendo. Só depois que
todos desembarcam é que os policias saíram com o prisioneiro."
Fernanda*, 34 anos, mora em Cotia. Foi comissária de voo
por dois anos.
Fonte: Do UOL, em São Paulo, 23/02/2015. Fotos: Getty
Images.
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