O ESTILO DE
EUCLIDES
Anedota
corrente, confirmada ao colecionador por Olavo Bilac e Coelho Neto.
Conversava-se, uma vez, em um grupo de homens de letras,
sobre Euclides da Cunha, que acabava de publicar os Sertões, quando
Joaquim Nabuco, que lhe censurava o estilo retorcido, opinou:
- É um grande escritor, concordo.
E num gesto de desagrado:
- É pena que escreva com cipó...
OS HÓSPEDES DE
SANTO ANTÔNIO
Ernesto Sena
- "Notas de um Repórter", pág. 164.
Católico praticante, verdadeiro frade leigo, o
conselheiro Ferreira Viana residia, mesmo quando ministro do Império, em uma
cela do convento de Santo Antônio, onde os religiosos o tinham como
companheiro. Certa vez, em palestra à mesa, frei João Costa, membro da
confraria, começou a enumerar as pessoas que tendo residido naquela casa de
Deus, tinham dali saído para ser ministros ou para outros cargos importantes.
- Frei João, frei João, fale baixo! - pediu Ferreira Viana, com ares misteriosos. E olhando
em torno:
- Não conte isso lá fora, senão toda essa gente se vem meter
aqui no convento!...
RESPEITO À
ETIQUETA
J.M. de
Macedo - "Ano Biográfico", vol. I, pág. 312.
O dr. Antônio Ferreira França, que foi deputado geral
pela Bahia em quatro legislaturas, entre 1823 e 1837, era não só um dos
oradores mais espirituosos da Câmara como um dos médicos mais ilustres do seu
tempo. Sentindo-se Pedro I doente, ordenou que chamassem o médico baiano, o
qual compareceu prontamente.
No correr da visita, o imperial enfermo sentiu sede, e o
dr. França, que nada entendia da etiqueta da Corte, encheu um copo dágua, e ia
dar-lhe, quando um dos camaristas o deteve, brusco, dizendo-lhe que não lhe
cabia aquela honra, que só a ele competia dar água ao Imperador.
O dr. Ferreira desculpou-se quanto pôde e, voltando ao
Paço no dia seguinte, sucedeu que estando sozinho com o monarca, este
manifestasse desejo de verter água. O "criado-mudo" estava ao alcance
da mão, mas o dr. França resolveu vingar-se; correu à porta do quarto, abriu-a,
e, as mãos em concha, gritou para o corredor:
- Quem é o do vaso?!... Venha, quem é o do vaso!...
COLEGAS...
Ernesto Sena
- "Notas de um Repórter", pág. 185.
Após a sua entrada para a pasta da Fazenda, havia o
conselheiro Francisco Belisário Soares de Sousa recorrido, já, três vezes, ao
crédito do país no estrangeiro, quando, ao passar um dia pela rua do Ouvidor,
ouviu que alguém o saudava, alto:
- Bom dia, sr. Conselheiro, meu amigo e colega!
O ministro voltou-se, e, vendo Paula Ney, de chapéu na
mão, numa reverência, correspondeu, atrapalhado, ao cumprimento.
E Ney, logo, com o mesmo sorriso:
- Colega, sim... Porque... V. Excia. Também não vive de
empréstimos?
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).
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