Por José Jackson
Coelho Sampaio (*)
Nos
últimos 500 anos vimos muitas mudanças na base da produção de riqueza: a
propriedade da terra (mercantil), da fábrica (industrial) e do dinheiro
(financeiro). Hoje, cada vez mais se destaca a propriedade do conhecimento. O
poder, portanto, tem sido dado a quem concentra as bases estratégicas do
momento econômico, a capacidade de detê-las ou de produzi-las em massa, ou o
controle dos cassinos dos equivalentes universais de troca. Hoje, emerge o
domínio intelectual sobre técnicas, patentes, tecnologias, quando se opta pela
produção, não pela especulação.
O
Brasil tem irrigado o mundo e se associado ao mercado internacional com pau
brasil, açúcar, ouro, café, borracha, cacau, ferro, soja. Originalidade de
produto em cada ciclo econômico, boa qualidade, baixa agregação tecnológica de
valor, baixo valor do trabalho, baixo preço. Nos últimos 50 anos, sobretudo nos
últimos 30, pós-redemocratização, nossas universidades e institutos de pesquisa
cresceram e se tornaram complexos, incorporando base científica, potência
inovadora e competência empreendedora. Porém, tudo é novo e frágil.
A
ciência básica brasileira está no limiar do salto para ciência aplicada e
desenvolvimento tecnológico, iniciando ciclo de emancipação e de novo modelo
produtivo, tendo no MCTI um carro-chefe. E, neste momento, em nome de falsa
economia de gasto público, coloca-se o MCTI na barriga do Ministério das
Comunicações que, fora os Correios, cuida de distribuir emissoras de rádio e
canais de TV.
Esta
reestruturação do MCTI desvenda objetivos: voltar às commodities com pouco
agregado de valor, desviar para outros usos a aplicação em infraestrutura de
pesquisa dos recursos dos Fundos Setoriais e extinguir o piso de 30% de indução
ao NE/N/CO, que visava reduzir assimetrias regionais. Cada universidade, o
Conselho de Reitores do Ceará e as associações nacionais de universidades e de
trabalhadores do campo da CT&I dizem não a este arranjo espúrio gestado no
quadro político de exceção em que vivemos.
(*) Professor titular em saúde pública e reitor da Uece.
Publicado In: O
Povo, Opinião, de 21/6/16. p.8.
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