Por João Soares Neto (*)
“Apenas em torno de uma mulher que ama pode surgir
uma família”. F. von Schlegel
Esta semana fui ver fábrica comandada por uma mulher de fibra e
talento. Fica no lado oeste da Praça Presidente F. D. Roosevelt, no Jardim
América. Roosevelt, como se sabe, foi presidente dos Estados Unidos até quase o
final da Segunda Guerra. A ele foi prestada essa homenagem pela cidade. Aqui,
no Pici, por acordo entre o oscilante mando de Vargas e a América do Norte, foi
montada base de apoio– por ser próximo da África e da Europa – na travessia
pelos céus do Atlântico Sul e reabastecimento das tropas contra os integrantes
do Eixo, composto por Alemanha e Itália. Isto sem falar do Japão, pois situado
no outro lado do mundo, a Ásia.
Essa digressão singela é apenas para dizer da alegria ao ver a
coroação do esforço de Maria Soares Leitão, mulher, amiga e confidente de
Juarez Leitão. Juarez teve livrarias, foi vereador e professor reconhecido de História
Geral. Por fim, o casal montou uma fábrica de fardamentos profissionais e
escolares. Na verdade, “montou” é licença poética. À frente de tudo está essa
mulher destemida, bem vestida, no albor da sua maturidade e amor visível por aquilo
que sabe fazer.
É encanto ver a sala de demonstração ou, como falam os anglicistas,
o “show-room”. Centenas de modelos com pluralidade de cores e estilos. Cada
peça, seja camisa, calça, jaleco, paletó, avental, macacão e outros que tais,
tem corte perfeito, costuras retas e curvas com esmero. Tudo contém o toque
pessoal da estilista em que Maria Leitão se tornou. E é.
Ela traduz, em palavras adequadas, traçados, talhes, costuras e
pespontos com sensibilidade e alegria. Quiçá o convívio com o inquieto bardo
inoculou-se em seus gestos. Por trás de suas dioptrias emolduradas por óculos,
ela vai dissertando sobre o fardamento escolar e a roupa profissional. As
fardas exibem a imagem e o cuidado que empresas têm, respectivamente, com seus
alunos e colaboradores.
Não sem razão, Maria Leitão é hoje empresária de sucesso para a
dimensão que definiu. Parece artesania mecanizada com costureiras em filas
simétricas, sob claras luzes a produzir beleza a influir no amor próprio
daquelas pessoas que as vestirão.
Ainda não falei com o Juarez sobre as impressões que ora estão
sendo escritas na pressa semanal de entregar o texto ao jornal. Agora, entendo,
as confissões – não as de Santo Agostinho – que o poeta, professor, biógrafo e
contador de “causos” me fez ao ter o seu coração renovado por bisturis, pontes
e pontos. Era a consagração do liame que o atava, sem sufocar, à companheira de
décadas concebendo família equilibrada e o aceitava, com ou sem versos, seus
horários peculiares de sono e vigília.
Maria cuida até dos sucos e da goma para as tapiocas publicitadas por
infiltrado em convescotes do Juarez com amigos palradores.
(*) João Soares Neto é escritor e
membro da Academia Cearense de Letras.
Fonte: Publicado no jornal O Estado-CE, em 19/02/2016.
Nenhum comentário:
Postar um comentário