Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Há algo de podre na
República!
Segundo a Constituição,
a pessoa do presidente é um símbolo nacional. Quando o presidente adoece (sendo
ele, no caso brasileiro, Chefe de Governo e, ao mesmo tempo, Chefe de Estado),
adoecemos todos, em dose dupla. Como médico, estando ou não o paciente em risco
de morte ou de vida, não posso tirar-lhe a Esperança. Meu dever é o de lutar
para que sofra menos, a cura é obra de Deus. Há uma lassidão moral nas classes
dirigentes do nosso país. Com isso, quem lê jornal ou vê TV, internet concorda.
Começo com a pergunta:
— Se os deslizes do cotidiano ascenderem aos desmandos dos governantes? Nessa
questão é onde reside a tônica da complexidade do momento que estamos vivendo. Fui
pediatra por muito tempo. Por minhas mãos, passaram gerações de brasileirinhos,
agora, como psicoterapeuta de jovens e seus pais, assisto às mazelas semeadas
em passado historicamente não muito distante daquilo que fizemos com os nossos
jovens e sofro.
Sei que, em países de
cultura sedimentada, pode aparecer um Adolf Hitler ou que a filosofia marxista
poderá desembocar na crueldade de Josef Stalin. Esses dois passaram a ser
“líderes” emblemáticos do poder da ditadura. Outras Nações, não tão pujantes,
têm se sobressaído nos índices de Melhoria de Vida, quando conseguiram
libertar-se das falsas lideranças. (Vide caso do Japão e nações do Leste
Europeu).
O Brasil está, neste
momento, em uma situação de decisão, pois a História demonstra que os povos
seguem os caminhos ditados por suas lideranças. Dito isso, e já que estamos em
época científica, vamos a algumas pesquisas. Assim sendo, creio ser
interessante passarmos uma vista de olhos no que diz o IBGE, em publicação do
mês de janeiro de 2006 (10 anos antes destas últimas eleições municipais).
De um universo de 2.000 votantes, foram encontradas as seguintes
respostas:
- 90% das pessoas acharam que os políticos pensam, somente, em si
mesmos,
- 82% disseram que a classe política é corrupta,
- 89% a 95% dos pesquisados consideram o caixa dois um crime, como
também, a superfatura de obras públicas;
- 64% consideraram-se
pessoas honestas, muito embora não descartem a tentação — se exercendo cargo
eletivo tenham força de resistir a se aproveitar do cargo em “causa ou
proveito, próprio” (74%). O inquérito diz que 98% dos pesquisados desconhecem
alguém de seu relacionamento que não tenha praticado, pelo menos, um ato
condenável.
A conclusão que se pode
tirar do estudo é que a maioria repudia a corrupção, porém é capaz de cometer ou
tolerar a desonestidade. Muito antes dessa análise do IBGE, esses números crus
apontados pela Ciência da Estatística, o sociólogo Sergio Buarque de Holanda
(Raízes do Brasil, 1936) afirmava tais achados.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade
de Oxford (Grã-Bretanha).
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