Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Não são poucas as evidências
científicas a sugerir que estados emocionais, como a perda de esperança, a
resignação, a repressão da agressividade, a depressão decorrente de desemprego,
guerras ou matanças podem constituir-se em fatores prognósticos do risco
evolutivo de determinadas patologias.
O vocábulo
medicação nos remete a uma interpretação mais ampla do que o simples ato de
tratar um paciente. Nele está incluído o emprego de agentes terapêuticos como
caminhadas, panos quentes, massagens, fisioterapia, além de qualquer outro
recurso.
O princípio da
não-maleficência no tratamento para aliviar ou melhorar, quando possível, um
sofrimento ou uma doença ou na profilaxia, no caso da vacina, exige, antes de
tudo, o respeito à regra “primum non nocere” ou “primum nil nocere”,
expressão latina usada na bioética que significa “primeiro, não prejudicar”.
Sem desejar
banalizar, estamos saturados ou inteiramente desinformados sobre a eficácia das
vacinas contra o coronavírus. Um dos argumentos é que têm um efeito protetor em
50% ou 70% dos vacinados, além dos milhares de efeitos colaterais indesejáveis,
que podem levar à morte de quem tomar a tal da vacina, seja ela fabricada na
Rússia do Sputnik, na China ou na norte-americana da Pfizer. Lembro que
medicamentos são apenas parte da arte-ciência médica, aquela que combate o mal,
a dor, a doença, o sofrimento e que se espera seja 100% eficaz, como se fosse
um cálculo da resistência de uma pilastra de sustentação de uma ponte, um
edifício ou uma simples marquise.
Vamos ao título
desta crônica.
Desde os anos
de 1940 constatou-se, do ponto de vista epidemiológico, o aumento da incidência
de patologias, sejam elas os tumores neoplásicos (cânceres) ou as doenças
infectocontagiosas, que são aquelas de fácil e rápida transmissão, provocadas
por agentes como um vírus ou um bacilo que causa sífilis ou tuberculose, que
atemorizaram a população global em diferentes instantes da História.
Não são poucas
as evidências científicas a sugerir que estados emocionais, como a perda de
esperança, a resignação, a repressão da agressividade, a depressão decorrente
de desemprego, guerras ou matanças podem constituir-se em fatores prognósticos
do risco evolutivo de determinadas patologias.
O sistema
imunológico pode ser considerado como um órgão difuso no nosso corpo; é como se
cada um de nós possuísse um eixo neuro-imunológico. Diria ademais que as
adversidades vitais alteram o “self” emocional, aumentando ou diminuindo nossa
resistência, ou fraqueza contra entidade viral, bacteriana; os tumores
neoplásicos. A Medicina atual dialoga com todas as áreas do conhecimento humano
e a maneira arcaica de pensar o ser humano como uma corporação física e
singular continua nos fazendo pagar um pesado tributo pelo não reconhecimento
das individualidades da pessoa.
Oportuno será
lembrar que números são importantes, mas não se prestam para narrativas das
nossas vidas, que não se resumem a estatísticas, algoritmos. Números não contam
narrativas, são apenas dados e nada mais. Bastaria lembrar que os dados
coletados são publicados ou trocados por conveniência histórica, além de serem
utilizados politicamente, e que as doenças, do mesmo modo que os figurinos, são
modismos de determinadas épocas.
Lembrem-se de
que a tuberculose já foi a doença dos grandes escritores e compositores: basta
lembrar dois: Chopin e Kafka. Já pouco antes do aparecimento da presente
epidemia as grandes preocupações eram com a “Síndrome do Esgotamento
Profissional” e a Depressão. Alie-se ainda a essas agressões à estabilidade
emocional das pessoas a divulgação de dados nas redes de comunicação de todas
as categorias, que informam sem avaliar as consequências atemorizantes de suas
narrativas, fato já comentado por mim em outro escrito. (www.chumbogordo.com.br/32580-pa
ndemidia-por-meraldo-zisman)
A dúvida entre
tomar ou não a vacina, quando ela estiver disponível para todos nós, faz-me
lembrar uma lenda sufi intitulada NASRUDIN E A PESTE, já mencionada num artigo
de minha autoria (www.chumbogordo.com.br/32580-pandemidia-por-meraldo-zisman)
que conta assim:
“A Peste ia a caminho de Bagdá quando encontrou
Nasrudin. Este perguntou-lhe: — Aonde vais? A Peste respondeu-lhe: — Bagdá,
matar dez mil pessoas. Depois de um tempo, a Peste voltou a encontrar-se com
Nasrudin. Muito zangado, o mullah disse-lhe: – Mentiste. Disseste que matarias
dez mil pessoas e mataste cem mil. E a Peste respondeu-lhe: — Eu não menti,
matei dez mil. O resto morreu de medo”.
O sufismo é
conhecido como a corrente mística e contemplativa do Islão. Os praticantes do
sufismo, conhecidos como sufis, procuram desenvolver uma relação íntima, direta
e contínua com Deus, utilizando-se das práticas espirituais transmitidas pelo
profeta Maomé, conferir no https://pt.wikipedia.org/wiki/Sufismo,
para maiores detalhes.
Nesta era das
comunicações o medo, mais do que qualquer outra coisa, serve como fundamento
para aterrorizar a população global.
Diria até que
as forças midiáticas que modelam as nossas mentes não perdem nem para a
Natureza, aqui entendida como universo, mundo, meio ambiente. E isso tem
muito a ver com a nossa triste polarização política, que é mais perigosa do que
qualquer pandemia, inclusive a atual, da qual estou convalescendo.
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES) e da
Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford
(Grã-Bretanha).
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