terça-feira, 10 de agosto de 2021

VACINAR, NÃO ASSINAR

Por Roberto da Justa Pires Neto (*)

O recente anúncio, por parte do Governo do Estado, do início da vacinação de trabalhadores da educação contra Covid-19 trouxe esperança para toda a sociedade.

Contudo, esta esperança acabou ofuscada e se transformou em perplexidade com o autoritarismo, a discriminação, a ilegalidade e a falta de respaldo técnico e científico revelados pela imposição desnecessária da assinatura de termo de compromisso como condicionante para a vacinação.

O autoritarismo ficou explícito pela falta de diálogo. A ilegalidade, pelo "esquecimento" de que vacina é um direito de todo cidadão, não se admitindo condicionantes.

A discriminação está no fato de nenhuma outra categoria ter sido submetida a tamanho constrangimento.

A medida autoritária também carece de compreensão técnica e científica sobre o atual cenário. A pandemia segue se agravando. Não há garantia de proteção efetiva das atuais vacinas contra as novas variantes virais.

A vacinação, mais que uma medida de proteção individual, deve ser entendida como uma ação de proteção coletiva de uma população, o que não significa um escudo infalível a cada um dos indivíduos.

Casos de Covid-19 estão sendo registrados mesmo entre pessoas previamente vacinadas com duas doses. Inclusive casos graves.

Tudo isso remete a uma pergunta: a vacinação de todos os trabalhadores da área da educação é o único critério para o retorno pleno e seguro das aulas presenciais? A resposta é NÃO. Há que se levar em consideração outros aspectos.

Será irracional o retorno de qualquer atividade presencial diante de cenário epidemiológico com elevadas taxas de transmissibilidade e incidência, sistema de saúde esgotado, baixa cobertura vacinal global e risco de emergência de novas variantes virais.

Há que se preocupar também com aspectos estruturais e tecnológicos nas escolas e universidades.

Nós, trabalhadores da área da saúde, estamos ansiosos pelo retorno às aulas presenciais.

Por outro lado, sabemos também que a escassez de vacinas é fruto da escolha deliberada do Governo Federal pela "imunidade de rebanho", às custas de milhões de infectados, sistema de saúde colapsado, economia devastada e óbitos evitáveis. A política da morte.

Os trabalhadores da educação merecem respeito. Não nos submeteremos a qualquer necropolítica. Vacinação para todos, sim. E, no caso dos trabalhadores da educação do Ceará, #VacinarNaoAssinar.

(*) Médico infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFC.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 3/6/2021. Opinião. p.19.

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