Por Roberto da Justa Pires Neto
(*)
O recente anúncio, por parte do Governo do Estado, do
início da
vacinação de trabalhadores da educação contra Covid-19
trouxe esperança para toda a sociedade.
Contudo, esta esperança acabou ofuscada e se
transformou em perplexidade com o autoritarismo, a
discriminação, a ilegalidade e a falta de respaldo técnico e científico
revelados pela imposição desnecessária da assinatura de termo de compromisso
como condicionante para a vacinação.
O autoritarismo ficou explícito pela falta
de diálogo. A ilegalidade, pelo "esquecimento" de que vacina é
um direito de todo cidadão, não se admitindo condicionantes.
A discriminação está no fato de nenhuma
outra categoria ter sido submetida a tamanho constrangimento.
A medida autoritária também carece de compreensão
técnica e científica sobre o atual cenário. A pandemia segue se
agravando. Não há garantia de proteção efetiva das atuais vacinas contra as
novas variantes virais.
A vacinação, mais que uma medida de proteção
individual, deve ser entendida como uma ação de proteção coletiva de
uma população, o que não significa um escudo infalível a cada um dos
indivíduos.
Casos de Covid-19 estão sendo registrados
mesmo entre pessoas previamente vacinadas com duas doses. Inclusive casos
graves.
Tudo isso remete a uma pergunta: a vacinação de
todos os trabalhadores da área da educação é o único critério para o retorno
pleno e seguro das aulas presenciais? A resposta é NÃO. Há que se
levar em consideração outros aspectos.
Será irracional o retorno de qualquer atividade
presencial diante de cenário epidemiológico com elevadas taxas de transmissibilidade
e incidência, sistema de saúde esgotado, baixa cobertura vacinal global e risco
de emergência de novas variantes virais.
Há que se preocupar também com aspectos estruturais
e tecnológicos nas escolas e universidades.
Nós, trabalhadores da área da saúde,
estamos ansiosos pelo retorno às aulas presenciais.
Por outro lado, sabemos também que a escassez de
vacinas é fruto da escolha deliberada do Governo Federal pela "imunidade
de rebanho", às custas de milhões de infectados, sistema de saúde
colapsado, economia devastada e óbitos evitáveis. A política da morte.
Os trabalhadores da educação merecem respeito. Não
nos submeteremos a qualquer necropolítica. Vacinação para todos, sim.
E, no caso dos trabalhadores da educação do Ceará, #VacinarNaoAssinar.
(*) Médico infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFC.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 3/6/2021. Opinião. p.19.
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