Por Roberto da Justa Pires Neto (*)
Fortaleza sedia, de 11 a 13 de junho, o Fórum
Regional em Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs). O evento, promovido pela
Universidade Federal do Ceará, reunirá, no Centro de Convivência, Campus do
Pici, mais de 200 pesquisadores, especialistas, gestores e representantes da
sociedade civil dos nove estados do Nordeste.
As DTNs representam um conjunto diverso de
doenças, a maioria de natureza infecciosa e parasitária, que afetam mais de 1,7
bilhão de pessoas em cerca de 150 países, especialmente as que vivem em
situação de pobreza.
No Brasil e no mundo, as DTNs continuam
a operar silenciosamente, muitas vezes à margem dos sistemas de saúde e das
políticas públicas. São causadas por uma ampla variedade de agentes - vírus,
bactérias, parasitas, fungos e toxinas - e incluem dengue, doença de
Chagas, leishmaniose, raiva, esquistossomose, tracoma, infecções fúngicas,
envenenamento por cobras, verminoses intestinais, entre outras doenças.
Quando não provocam morte imediata, as DTNs
podem produzir cegueira, deformidades, dor crônica, incapacidades e exclusão
social, atingindo, sobretudo crianças, idosos, populações indígenas e negras,
trabalhadores rurais e comunidades periféricas.
Muitas vezes, essas doenças afastam as
pessoas da escola, do trabalho e do convívio comunitário, perpetuando um ciclo
intergeracional de miséria e abandono. São doenças que deformam corpos e, ao
mesmo tempo, desestruturam vidas.
Apesar de sua gravidade, as DTNs
historicamente recebem menos financiamento para seu combate e menos
visibilidade do que outras enfermidades globais. Essa negligência não é apenas
científica, mas também política, econômica e social. Ela revela quais vidas
seguem sendo ignoradas e quais corpos continuam invisibilizados.
O Fórum Regional em Doenças Tropicais
Negligenciadas discutirá todos esses aspectos relacionados às DTNs, com ênfase
nas de ocorrência na região Nordeste.
Espera-se que se encontrem caminhos e
respostas concretas para o avanço no controle e eliminação destas doenças em
nossa região. Um avanço necessário. Uma reparação histórica e humanitária urgente.
(*) Médico
infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFC.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 12/06/2025. Opinião. p.19.
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