A missa de sétimo dia três anos depois
Absolutamente
ninguém queria conversa com o bebim Jesuilson no ambiente. Tentou dedinho de
prosa com o amigo comum Vavá, com o colega de racha Zé de Lulu e até com a
"mulher cujo marido morreu, enquanto não volta a se casar". Sim, o
sabido Jesuilson estava no velório de Ribamar, local de vigília bastante
animado, diga-se - cafezinho com bulim, Flávio José rolando ao longe - "Se
avexe não"...
Após
insistir - em vão - no diálogo com um cristão qualquer na cerimônia de
despedida ao amigo morto, Jesuilson partiu pra ignorância, fazendo uso de
elemento fundamental nessas horas de pesar: a fofoca funérea. Que fez?
Entabulou conversa franca com o defunto, ao ponto de o tom confessional chamar
a atenção do público vivo. Parecia gaiatice, mas Jesuilson convenceu:
-
Tu é doido, Riba?!? Sabia dessa não! Como? Seu Nonô faturando a quenga do
pastor? O Glaubim roubou um bode gordo do véi Gotardo? Susaninha nunca foi
moça?
Seu
Nonô, Glaubim e Susaninha, presentes, se achegam à viúva Nildinha, pedindo
providências:
-
Bota esse bebo pra correr! Tá se fazendo que conversa com o finado só pra
frescar com a nossa cara!
-
Sou moça, sim!!! - defendeu-se a virgem desmascarada pelo bebim, conforme o
morto.
Nildinha,
enfim, vai tomar providências. É que, com voz alteada, o inveterado Jesuilson
agora fala mal dela, para espanto dos circunstantes:
-Não,
não, não! Chame ela de rapariga não, é seu rabo de saia!
A
viúva se afobou com essa e tomou decisão irrevogável:
-
Vivo ou morto, o enterro disso é agora! Fechem o caixão e marquem a missa de 7º
dia!
-
Bem, se hoje é 10, vou avisar ao padre Climério que será no dia 16...
-
Não! E pra daqui a três anos, se até lá eu ainda me lembrar que esse infeliz
das costa ôca papocou!
Sob pressão, quem será capaz?
Trabalhar
e estudar com um fundo musical tranquilo é meio mundo; hora há, contudo, em que
o silêncio é o BG ideal. Comer é a coisa melhor do mundo quando a fome bate; há
certos manjares, porém, que o sujeito passa pra dentro mesmo farto. Dormir com
quem se ama é show; mas, se o par da gente ronca alto (e/ou bufa), a poltrona
da sala é pedaço de paraíso. Se bem administrado, dinheiro tem seu valor; senão
(bufunfa não aguenta desaforo), é praga que leva a criatura à louquice.
E
o ato solene de arrear o barro, o desbaste obrativo, a "cagadinha"
tão conhecida nossa? Não adianta fazê-la com pressa, às carreiras, a toque de
caixa, mesmo com a coisa já na porta de saída, pedindo penico liberativo. Que o
diga a amiga Jorlândia, junta com Dedé Odrin há anos. Não aperreie ela nessas
horas, se não quiser vê-la sair da casinha enfezada e levar uma bordoada no
fucim. Fica uma onça. E o bom é que esses episódios têm nomes e
particularidades. Senão vejamos a última deles.
Jorlândia,
revista em mão, sentadinha no trono (somente um banheiro em casa), e Dedé
tentando inadvertidamente tirar a mulher da concentração, e tomar-lhe o lugar.
-
Bora, meu amor! Tô 'mica'!
-
Dedé, Dedé! Tu já sabe, macho véi, que eu não defeco sob pressão!!!
Fonte: O POVO, de 18/07/2025. Coluna
“Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.