CARTA DE ALFORRIA
Tobias
Monteiro - "Pesquisas e depoimentos", pág. 243.
Ao chegar a Lisboa, exilado, a 30 de novembro de 1889,
Ouro-Preto foi visitar a bordo do Alagoas o Imperador deposto.
Encontrou-o calmo, conformado.
- Em suma, estou satisfeito,
- declarou-lhe Pedro II.
E referindo-se à sua deposição:
- É a minha carta de alforria... Agora, posso ir onde
quero...
SOL SEM OCASO
J.M. de Macedo
- "Ano Biográfico", vol. III, pág. 388.
Era em 1839. Com sessenta e seis anos, Antônio Carlos
era, ainda, o grande tribuno da mocidade e, talvez, mais eloquente, mais
arrojado, mais perfeito. Não obstante isso, e à falta de outro argumento, os
adversários procuravam frequentemente aludir à sua idade, com o intuito de
desarmá-lo.
Certo dia, nesse ano, na Câmara, o ministro da Guerra,
Sebastião do Rego Barros, respondendo a um discurso daquele a quem já denominavam
o "Mirabeau brasileiro", observou, de súbito:
- O próprio sol tem o seu ocaso...
- Mas este sol - respondeu-lhe de Antônio Carlos, - este
sol brilha no seu ocaso com todos os esplendores do meio-dia!...
FAZENDO UM BARÃO
Ernesto Matoso
- "Cousas do meu tempo", pág. 124.
Por ocasião da sua viagem ao Paraná, foi Pedro II
hospedado em Ponta-Grossa, por um fazendeiro rude, mas trabalhador e leal, o
qual, ao oferecer um almoço ao monarca, fê-lo, sem maiores cerimônias, nos
seguintes termos:
- Senhor Imperador! Eu podia ter feito mais alguma cousa;
podia ter matado mais uma vitela, mais um peru; mas preferi assinalar por outro
modo a vossa passagem por esta terra e a honra de vir a esta sua casa: libertei
todos os meus escravos (cerca de setenta) e peço a Vossa Majestade o favor de
lhes entregar as cartas de liberdade!
Ao chegar à Corte, levou o Ministro do Império ao
soberano os decretos distinguindo as pessoas que o haviam homenageado na
excursão, cabendo ao fazendeiro paranaense o oficialato da Ordem da Rosa.
- Isso é pouco para esse benemérito - declarou o Imperador; -
faço-o Barão.
Mas, Majestade, obtemperou o ministro ele é quase um
iletrado.
- Não será o primeiro,
- tornou o imperador; - e com a
circunstância de que é um homem muito digno.
E imperativo:
- Mande-me o decreto fazendo-o Barão dos Campos-Gerais.
PEDRO II E OS
HUMILDES
Tobias
Monteiro - "Pesquisas e depoimentos", pág. 309.
Antes de deixar, no porto de Lisboa, o Alagoas, o
Imperador pediu ao comandante do navio, José Maria Pessoa, uma lista de toda a
tripulação, a fim de gratificá-la, tendo em atenção a categoria de cada pessoa
de bordo. A criatura mais humilde do navio era um homem, estranho à equipagem,
tomado para cuidar do gado durante a viagem. Até dele o Imperador se lembrou.
- Falta o homem que trata dos bois - disse, ao notar a falta do seu nome.
E recomendando ao comandante:
- Não o esqueça.
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).
Nenhum comentário:
Postar um comentário