terça-feira, 31 de dezembro de 2013

O BRASIL ANEDÓTICO LX



CARTA DE ALFORRIA
Tobias Monteiro - "Pesquisas e depoimentos", pág. 243.
Ao chegar a Lisboa, exilado, a 30 de novembro de 1889, Ouro-Preto foi visitar a bordo do Alagoas o Imperador deposto. Encontrou-o calmo, conformado.
- Em suma, estou satisfeito, - declarou-lhe Pedro II.
E referindo-se à sua deposição:
- É a minha carta de alforria... Agora, posso ir onde quero...
SOL SEM OCASO
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. III, pág. 388.
Era em 1839. Com sessenta e seis anos, Antônio Carlos era, ainda, o grande tribuno da mocidade e, talvez, mais eloquente, mais arrojado, mais perfeito. Não obstante isso, e à falta de outro argumento, os adversários procuravam frequentemente aludir à sua idade, com o intuito de desarmá-lo.
Certo dia, nesse ano, na Câmara, o ministro da Guerra, Sebastião do Rego Barros, respondendo a um discurso daquele a quem já denominavam o "Mirabeau brasileiro", observou, de súbito:
- O próprio sol tem o seu ocaso...
- Mas este sol - respondeu-lhe de Antônio Carlos, - este sol brilha no seu ocaso com todos os esplendores do meio-dia!...
FAZENDO UM BARÃO
Ernesto Matoso - "Cousas do meu tempo", pág. 124.
Por ocasião da sua viagem ao Paraná, foi Pedro II hospedado em Ponta-Grossa, por um fazendeiro rude, mas trabalhador e leal, o qual, ao oferecer um almoço ao monarca, fê-lo, sem maiores cerimônias, nos seguintes termos:
- Senhor Imperador! Eu podia ter feito mais alguma cousa; podia ter matado mais uma vitela, mais um peru; mas preferi assinalar por outro modo a vossa passagem por esta terra e a honra de vir a esta sua casa: libertei todos os meus escravos (cerca de setenta) e peço a Vossa Majestade o favor de lhes entregar as cartas de liberdade!
Ao chegar à Corte, levou o Ministro do Império ao soberano os decretos distinguindo as pessoas que o haviam homenageado na excursão, cabendo ao fazendeiro paranaense o oficialato da Ordem da Rosa.
- Isso é pouco para esse benemérito - declarou o Imperador; - faço-o Barão.
Mas, Majestade, obtemperou o ministro ele é quase um iletrado.
- Não será o primeiro, - tornou o imperador; - e com a circunstância de que é um homem muito digno.
E imperativo:
- Mande-me o decreto fazendo-o Barão dos Campos-Gerais.
PEDRO II E OS HUMILDES
Tobias Monteiro - "Pesquisas e depoimentos", pág. 309.
Antes de deixar, no porto de Lisboa, o Alagoas, o Imperador pediu ao comandante do navio, José Maria Pessoa, uma lista de toda a tripulação, a fim de gratificá-la, tendo em atenção a categoria de cada pessoa de bordo. A criatura mais humilde do navio era um homem, estranho à equipagem, tomado para cuidar do gado durante a viagem. Até dele o Imperador se lembrou.
- Falta o homem que trata dos bois - disse, ao notar a falta do seu nome.
E recomendando ao comandante:
- Não o esqueça.
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

Nenhum comentário:

 

Free Blog Counter
Poker Blog