Meraldo
Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Esta crônica foi abrolhada pela releitura de um conto
persa, cujos autores e época são ignorados. Traduzida para o inglês por J. A.
Hamerton (1871-1949) é parte de coletânea de contos: The Masterpiece Library os
Short Stories.
Vamos a uma sinopse desta joia do conto da época de ouro da
literatura persa.
... Na cidade de Bagdá vivia um homem rico de nome Tooriri.
Famoso pelo seu espírito de solidariedade suportava com resignação as mil e uma
misérias que compõem a maior parte da existência humana. Atendia a todos com amor, paciência
e bondade.
Ajudava os semelhantes de acordo com suas possibilidades.
Na sua vida familiar, apesar de casado com uma megera, mantinha-lhe fidelidade.
Dado a escrever poesia, aparentava felicidade com o êxito dos outros bardos. De
quando em vez, apresentava olhar de uma estranha inquietação, logo controlado,
jamais percebido por ninguém...
... Nas montanhas dos arredores de Bagdá, numa caverna,
vivia o estoico Maitreya. Famoso. Dizia-se que na sua casa-caverna ele falava
diretamente com o “deus do bem” - Ormuzd - segundo o Zoroastrismo, uma crença
que muitos teólogos do ocidente e do oriente julgam ser a precursora das
religiões monoteísticas. Deixando os
teólogos de lado, vênia para tornar ao bondoso Tooriri.
Acordando, uma manhã, antes da esposa, viu-a jogar-se pela
janela, sem tempo de impedir seu tresloucado gesto. Desesperado, ao abrir a porta da rua deu de
cara com um mendigo. Ao fazer o gesto de levar a mão à bolsa de moedas,
assistiu o mendigo cair morto. Mais desesperado ainda, foi socorrido pela bela
- Mandaniki -, a mulher mais desejada da cidade. Ao leito do amor foi por ela
conduzido. Ao sentir a ternura da mulher, assistiu-a expirar nos seus braços...
Para deslembrar das tragédias do dia, resolveu ir ao
teatro. No caminho, temendo não conseguir chegar a tempo para o espetáculo
devido ao tráfego intenso, surpreso, observou a morte dos cavalos das carroças
que atravancavam o caminho.
Durante o show, uma de suas poesias foi declamada sem
menção de autoria. Estarrecido, assistiu o ovacionado autor-plagiador vomitar
sangue escuro antes de morrer, em meio aos imerecidos aplausos. Diante de tanta
mortandade, suicidou-se.
Coincidentemente, o eremita Maitreya morreu de morte
natural no seu cavernoso recanto. Como era natural a época, os recém-falecidos
candidataram-se ao Paraíso do Deus da Bondade. Ambos podem entrar no Céu,
detonou Ormuzd, para espanto do eremita. E mais ainda ficou quando o deus
disse: Primeiro tu, bondoso humano. A precedência é sua, eu lhe explico,
Tooriri:
“O suicídio da tua
esposa, a morte do mendigo, da bela mulher, dos cavalos, do plagiador foram
frutos do teu Primeiro Impulso. Compreensivo é que a espécie humana nasce como
este primeiro impulso e a maioria dos humanos conseguem dominar este primeiro
impulso. O de aniquilar, concorrer, dominar os desejos das pessoas, por mim
criadas. Vocês, mulheres e homens, são julgados pelo domínio que conseguem
alcançar sobre esse PRIMEIRO IMPULSO”.
“O teu domínio sobre ele, faz perene a minha criação”.
Quanto a ti, Maitreya, com o teu exemplo de vida, a minha
concepção de Humano pereceria. Não poderia haver vida com a tua maneira de
viver. Abro as portas do meu éden para você, apenas por generosidade... A minha
Humanidade não pode morrer, ela tem de continuar...
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Conclusões Psicológicas
Impulso: conceito que designa o
processo dinâmico da pressão ou força que age repentinamente sobre o organismo
humano (Motivação) (Sigmund Freud 1856-1939). Até o século XIX, os psicólogos
acreditavam que o impulso humano era incontrolável.
No século XXI, já deveríamos saber e
lembrar que os comportamentos julgados inatos às pessoas, não importa sua
cultura, origem, religião, riqueza ou pobreza, podem ser modificados por seu
aprendizado e por suas experiências.
Nos meios de comunicação,
responsabilidade e inconsciente são termos que não aparecem relacionados. Urge
considerar a responsabilidade pelo que é inconsciente, não podemos por a culpa
nos mitos maternos ou paternos e muito menos nas adversidades sociais as quais,
até o século passado, nos permitiam escapar afirmando: "foi por causa da
pobreza, das injustiças sociais".
Atravessamos um novo momento e como
diz Jorge Forbes no seu livro Inconsciente e Responsabilidade (Psicanálise do
Século XXI) ed. Manole 2012: - “Saímos da época do ‘Freud Explica’ e entramos
na época do ‘Freud Implica’.
Por isso, não entendo a razão pelas
quais terroristas, assassinos, assaltantes e narcotraficantes, quando menores
de 16 anos, sejam isentados de responsabilidade pelas leis brasileiras, apesar
de imersos num mundo midiático que lhes transmite, diuturnamente, toda a
experiência captada em várias partes do planeta Terra. Alguém criado nesse
caldo de cultura humanística não pode ser considerado inimputável quando
pratica atos criminosos. Atravessamos um novo momento Histórico... As leis
precisam ser adaptadas aos avanços do Mundo.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
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