Tiro pela culatra
A
gozação se espalhou rápida no meio da rapaziada do Ipu/CE. O velho Faca Cega
foi submetido à lâmina do dr. Benjamin Hortêncio, que amputou, quase pelo
tronco, seu órgão genital. Faca Cega, tipo popular, detestava a alcunha. A
operação era motivo de galhofa. E ocorreu um mês após seu casamento.
Conta
Leonardo Mota, em seu Sertão Alegre: "se o mero consórcio provocara
picarescos comentários, imagine-se o que foi a maledicência ao se divulgar o
que Faca Cega sofreu nas mãos do cirurgião. As murmurações culminaram quando,
um ano depois, a mulher do mutilado começou a apresentar os iniludíveis sintomas
da maternidade".
Nessa
atmosfera de zombarias impiedosas, Faca Cega se dirigiu ao Padre Feitosa e lhe
pediu uma hora para o batismo do filho. Espírito folgazão, o velho sacerdote,
que jogava o gamão à calçada, fungou uma pitada e gracejou:
-
Mas, que história é essa? Depois duma operação como aquela sua, você ainda
consegue ser pai?
Risada
geral. Pachorrento, Faca Cega retrucou:
- Eu
me admiro, Padre Feitosa, é de o senhor, um padre velho, homem prático na vida,
vigário no sertão há tantos anos, ignorar que o tiro não saiu do cano e, sim,
da culatra.
Fonte: Gaudêncio Torquato
(GT marketing comunicação).
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