quinta-feira, 25 de agosto de 2016

A PRAÇA DO BETO STUDART


Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
É a antiga Praça das Flores, renomeada (15/5/2016) Praça Dr. Carlos Alberto Studart Gomes, pai daquele. É bem que tenha sido assim. As flores, embora marcessíveis (pois murcham) não precisam ser regadas para delas nos lembrarmos, seu aroma quedando-se no ar. Tal não acontece com as pessoas, muita vez olvidadas pela posteridade esquecediça, e desdenhosa. O dr. Carlos Alberto Studart foi uma das figuras solares da pneumologia (pulmões) entre nós.
Por 39 anos (1944-1983), dirigiu com zelo e clarividência o então Sanatório de Messejana, habilitando nosso Estado para acudir ao crescimento epidemiológico das cardiopatias vasculares no Brasil. Em agosto, no Norte e Nordeste brasileiros, 1970, foi ali realizada, com precedência, a primeira operação cardíaca com circulação extracorpórea para transplante. Naturalmente, com justiça, essa casa de saúde – hoje de referência nacional – foi reconhecida com o augusto nome de Hospital (de Messejana) Dr. Carlos Alberto Studart Gomes. Dele podemos afirmar, em verdade, ter sido qual flor amarantina, imarcessível, que não feneceu (murchou) como diziam os gregos. Justíssimas, portanto, todas estas homenagens.
Como salientamos no O POVO em 9/x/2013 (“Mais Brasil para os médicos”), ali, já em 2009, seus cirurgiões cardíacos, liderados pelo dr. Juan Mejia conseguiram o pronto apoio financeiro do empresário Jorge Alberto Vieira Studart Gomes (da BSPar) para a fabricação do primeiro coração artificial brasileiro, antecipando-se aos paulistas (USP) em três anos. Foi dessarte desenvolvida em nossas plagas, o Ax-Tide, originalíssimo coração mecânico a ser usado como prótese temporária até o transplante. Tudo bancado, nacionalmente, sem insumos outros, pela Studheart Technologies, a qual, até àquela data, já havia investido R$ 6 milhões.
Diferentemente do badalado engodo lulopetista, este, sim, é mais Brasil para os médicos, outra ferramenta terapêutica, e não demagogicamente lido ao contrário. Vale aqui salientado que – pelos padrões internacionais – nós temos médicos suficientes. Faltam-lhes, contudo, estetoscópios, tensiômetros, películas de raios X, até gaze, esparadrapo. Aliás, em 2012, o Brasil deixou de aplicar R$ 17 bilhões na saúde! E esta só conta oficialmente com R$ 2/dia/pessoa!
Deduz-se dali outro exemplo edificante do espírito humanitário e fraterno do amigo Beto Studart, um dos faróis do empreendedorismo no Ceará. Ocorreram-me estas considerações há pouco, manhãzinha cedo, ao contornar aerobicamente não mais outro malcuidado logradouro público, mas uma praça nova, civilizada, praça do povo, como o céu é do condor, com pombos arrulhantes e ronronantes gatos. Parabéns! Nossos corações agradecem. É assim que deve caminhar a humanidade. 
(*) Professor Emérito da UFC. Titular das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de Médicos Escritores.
Fonte: O Povo, Opinião, de 27/7/2016. p.10.

Pedro Henrique Saraiva Leão

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