quarta-feira, 20 de maio de 2020

FORTALEZA ENTRE RIOS


Por Artur Bruno (*)
Margear o rio foi, ainda nos primórdios do século XVIII, uma das principais prerrogativas das ordenações régias quando das primeiras ocupações das terras cearenses. Os vaqueiros, tangerinos, sesmeiros, proprietários de terras e das fazendas de gado, representantes do Estado português se estabeleceram às margens dos rios, onde o mínimo de pastagem para as boiadas era possível.
A capital não fugiu à regra. O Pajeú é historicamente o rio no entorno do qual se assentou a cidade. Infelizmente, em volta do riacho hoje poluído, restam poucas áreas verdes de margem, uma delas próxima à sede da Prefeitura, no Centro. Nossa cidade, ocupada de forma desordenada, não contribuiu para a preservação de seus mananciais. Dezenas de lagoas, por exemplo, foram aterradas.
Mesmo assim, a vegetação de Fortaleza é tipicamente litorânea com áreas de mangue e restinga. As áreas de restinga encontram-se nas proximidades das dunas da cidade e perto da foz dos rios Ceará, Cocó e Pacoti. Nos leitos destes rios a mata predominante é a de mangue. Estas matas estão protegidas por lei e parte delas constituem-se na maior área verde da cidade, o Parque Estadual do Cocó, com 1.580 ha, regulamentado pelo governador Camilo Santana em 2018, fundamental para preservação do rio Cocó. Seguindo a tendência, o prefeito Roberto Cláudio regulamentou o Parque Rachel de Queiroz, com 203 ha, beneficiando 14 bairros da Zona Oeste e ajudando a preservar riachos e áreas alagadas.
A capital é uma cidade fincada entre rios. O rio Cocó e seu leito formam a maior área de mangue de Fortaleza, cidade que absorve 2/3 da sua bacia hidrográfica. Por sua vez, o rio Ceará, que desemboca na praia da Barra, marca a divisa com o município de Caucaia. O rio Pacoti faz a divisa de Fortaleza com Aquiraz. As suas margens, com seus manguezais, formam hoje a Área de Proteção Ambiental (APA) do rio Pacoti. Vale citar também o Maranguapinho, maior afluente do rio Ceará, e o rio Coaçu, afluente do Cocó, que separa Fortaleza do Eusébio, cujo leito ajuda a formar a lagoa de Precabura.
No aniversário de Fortaleza é bom lembrar da riqueza dos nossos rios, de forma a incentivar o sentimento de preservação na comunidade. Enquanto outras cidades do mundo têm rios mortos, a capital cearense ainda tem chance de recuperar seus recursos hídricos, através da limpeza, reflorestamento e recuperação de suas matas ciliares. 
(*) Secretário do Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMA) do Estado do Ceará. Sócio do Instituto do Ceará.
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 13/4/20. p.16.

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