Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
… Esses
aglomerados tendem a crescer cada vez mais, pois as pessoas usam as “compras”
como sua única razão legítima para sair de casa. Isso piora o problema de
excesso de compras e estocagem, levando as lojas e agências governamentais a
impor racionamento adicional ao público entediado e estressado…
“Ame
os teus inimigos, pois eles te mostram os seus defeitos”
(Benjamin Franklin 1706-1790).
A minha mulher ficou
horrorizada, ao ir ao supermercado no sábado passado, com o número de pessoas,
velhos e crianças, mulheres e homens passeando na loja, fazendo compras ou
zanzando. Sei que a quarentena terá um sério impacto econômico sobre muitas
pessoas e suas famílias, sem falar nos sofrimentos mentais.
De chamar a atenção é a
crença nas teorias da conspiração mundial, que continua forte entre muitas
pessoas. Segundo a pesquisa do Pew
Research Center, 23%
dos americanos acreditam que o vírus causador do COVID-19 foi criado
intencionalmente em laboratório chinês ou russo. A fantasia de
uma conspiração de algo universal e secreto continua presente nas mentes das
pessoas, apesar dos avanços da ciência e da tecnologia.
Mas voltemos à realidade e à
vida como ela é para analisar essa pandemia causada pela décima nona mutação do
coronavírus. Os governos municipais intervêm, fechando parques e praias,
limitando as atividades ao ar livre a viagens “essenciais”, fechando
restaurantes e até… os salões ditos de beleza.
… A
chave do nosso sucesso pode nos arruinar, cabe a nós fazer a melhor escolha
diante de um inimigo invisível. Lembrem-se que o pior inimigo do homem é o
próprio homem.
Ordenando o fechamento de
tudo e de todos. Diante disso, as pessoas recorrem cada vez mais às compras
como uma de suas poucas razões legítimas para se aventurar a sair de casa. Já
vimos a formação de aglomerados de pessoas em supermercados e outras lojas que
vendem alimentos, etc.
Esses aglomerados tendem a
crescer cada vez mais, pois as pessoas usam as “compras” como sua única razão
legítima para sair de casa. Isso piora o problema de excesso de compras e
estocagem, levando as lojas e agências governamentais a impor racionamento
adicional ao público entediado e estressado. Nesse cenário, a ansiedade de
ficar preso na própria residência faz com que as pessoas queiram sair de casa,
nem que seja para uma comprinha, necessária ou dispensável. Em toda a história
humana, viver com outros da mesma espécie possibilitou segurança, alimento e
parceiros para a perpetuação da espécie.
Talvez por isso o ‘homo’ –
dito sapiens – foi viver em grupos, o que ajudou a
enfrentar as feras e conseguir alimento, já que as tarefas eram divididas. Além
disso, machos e fêmeas não precisavam sair por aí em busca de parceiros e
parceiras. Tudo estava mais próximo nas mesmas cavernas ou tribos. O
desenvolvimento do cérebro levou à criação da linguagem, à construção de
objetos, moradias, veículos e muitas outras facilidades. O poder do Homem sobre
si mesmo é cada vez mais reduzido, apesar do aumento do nosso conhecimento e
dos avanços científico-tecnológicos.
A chave do nosso sucesso pode
nos arruinar, cabe a nós fazer a melhor escolha diante de um inimigo invisível.
Lembrem-se que o pior inimigo do homem é o próprio homem.
Certamente esse coronavírus
serve para mostrar as nossas culpas e enganos nesta era da automação, da
informática e da inteligência artificial e mostrar também que somos todos parte
da mesma Natureza. Somos animais e – como todos os seres vivos — mortais.
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES). Consultante
Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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