Por Ariosto
Holanda (*)
Nessa pandemia vi
com muita clareza que: 1º) Existe uma brutal concentração de renda - Essa
situação explica o fracasso da quarentena. Os que tem renda podem ficar em
casa, mas, a maioria tem de sair para sobreviver. Aquela imagem do vendedor de
pipocas, que numa entrevista, disse: "ou eu fico em casa e morro de fome
ou saio para vender minhas pipocas mesmo correndo o risco de contrair a
doença", é emblemática; 2º) Aparece um número de mortes maior na classe
pobre - Os pobres, sem acesso à nutrição adequada, água potável, habitação,
saneamento básico e sem recurso para comprar material de limpeza, contraem a
doença mais facilmente; 3º) A economia transnacional está fragilizada - As
oscilações das bolsas de valores revelam isso; 4º) Temos um sistema de saúde em
colapso - A falta de leitos, pessoal e equipamentos nas UTIs atestam essa
situação.
Mas, fica a
pergunta: após essa pandemia, o que fazer? Com certeza os problemas
humanitários e ambientais vão se tornar urgentes. Um novo mundo surgirá
exigindo definição de estratégias voltadas para o desenvolvimento humano
(educação, capacitação, saúde e trabalho) e para o uso de energias não
poluentes. Como ocorrerão mudanças rápidas e profundas na área tecnológica, com
novos processos produtivos usando a inteligência artificial - robótica e
automação - para substituir o homem, temos de discutir o que fazer com milhões
de trabalhadores cuja força de trabalho será cada vez menos exigida e o que
deve ser feito para acabar com essa pobreza e desemprego. O primeiro caminho,
certamente, seria o da criação e fortalecimento de micro e pequenas empresas; o
segundo, o de apelar para as instituições de pesquisa e ensino superior para
que promovam um grande programa de extensão voltado para a transferência de
conhecimentos para o setor produtivo e para os pequenos negócios; e o terceiro,
seria o da criação de associações ou fundações, regulamentadas por lei, para a
gestão de fundos sociais, cujos recursos seriam oriundos de doações de pessoas
físicas ou jurídicas, como fizeram Estados Unidos, Japão e outros. Estamos
precisando também, nesse momento, realizar as obras demandadas pelos pobres,
como: habitação, saneamento, melhorias habitacionais, e outras. Enfim, temos de
encontrar o caminho para produzir em massa (quantidade) a partir das massas
(povo).
Já a saúde
precisa ser repensada. Muitas doenças só serão combatidas, se houver eficientes
agências reguladoras de saúde pública. Prevenção deve ser a prioridade máxima.
A saúde deve começar na escola. O médico Mariano de Freitas elaborou um
projeto, que ele chamou de Saúde na Escola, focado sobretudo, na prevenção.
Procuramos apresentá-lo a possíveis interessados: governo e prefeituras.
Infelizmente, em vão. Não devemos esquecer que uma pandemia mortal, um ato de
bioterrorismo ou uma calamidade ambiental podem desencadear crises
internacionais violentas.
Ernst Friedrich
Schumacher no seu livro O negócio é ser pequeno, escreveu: "Aliás, é um
fenômeno estranho que a economia não consiga desenvolver as regiões
pobres".
(*) Professor,
engenheiro e ex-deputado federal.
Fonte: Publicado
In: O Povo, Opinião, de 3/06/20. p.16.
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