Por Luciano Maia (*)
Estes últimos, diga-se, civilizaram-se no contato
com os povos europeus por eles dominados
O termo bárbaro, na antiguidade
helênica, designava alguém que não falava o grego. Esse conceito migrou para
Roma com o seu sentido ampliado: alguém que não falava grego ou latim, uma
pessoa que não comungava da herança greco-romana. Depois, a semântica tratou de
ampliar mais ainda o seu significado: todo indivíduo pertencente aos povos
ditos migratórios (vindos, especialmente, da Europa oriental; godos, eslavos...
e da Ásia: hunos, búlgaros...) que participasse das investidas contra o império
romano, e depois, em época mais recente, turcos, húngaros e outros, todos,
segundo a percepção romana, brutos, sanguinários e estupidamente ignorantes.
Estes últimos, diga-se, civilizaram-se no contato com os povos europeus por
eles dominados. Essas invasões, ditas bárbaras, deram-se de forma, digamos,
horizontal: chegavam os invasores, ocupavam os territórios cobiçados e
terminavam por assimilar a cultura ocidental, àquele tempo consubstanciada no
legado greco-romano.
Hoje, no Brasil (vale para
outros países, evidentemente) assistimos a uma invasão bárbara vertical
(expressão tomada a Walther Rathenau (1867-1922), verificada em duas vertentes:
no campo afetivo e no campo cultural. Naquele campo, observamos que se supervaloriza
a força do corpo em detrimento da mente, do efêmero pelo duradouro, do
espetacular pelo verdadeiro, do visual (e virtual) sobre o auditivo, da memória
mecânica em detrimento da memória de ideias, da apologia sexual, da
disseminação do mau gosto, da valorização do criminoso! No contexto da
apreciação das manifestações culturais, dá-se um verdadeiro desprezo pela
inteligência, a barbarização da ciência, a omissão sobre quem sabe pensar, um
verdadeiro diálogo de surdos! A tendência de vulgarizar o escopo real da obra
de arte, inserindo-se, na produção de obras duvidosas, acintes à inteligência,
agressividade oca e gratuita...
Este cenário, bem
característico dos atuais dias (e anos!...) em nosso país, é nutrido pelos
meios de comunicação de massa, dia após dia... A espetacularização do
noticiário ainda choca o espectador? Tentativa debalde, pois o que se apresenta
aos seus olhos e ouvidos são de uma mediocridade que dói... Apenas realimenta a
sua ignorância. Os arautos dessa invasão bárbara vertical não querem se dar
conta do incalculável prejuízo causado por esse frenesi, ao fim e ao cabo, sem
nenhum sentido, a não ser o da dominação, com a condenação à ignorância
compulsória.
(*) Membro da
Academia Cearense de Letras (ACL)
Fonte: Publicado In: O Povo, de 12/12/2017. Opinião. p.11.
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