Por Dom Walmor Oliveira
de Azevedo (*)
A parábola do
bom samaritano apresenta três simples passos, constituídos de propriedades para
conferir a este mundo feições próximas ao Reino de Deus: viu, sentiu compaixão
e cuidou. Trata-se do itinerário da misericórdia, magistralmente trilhado por
Jesus, o bom samaritano por excelência, que na Cruz entregou a sua vida para
salvar a humanidade. Indicou assim, para cada pessoa, que é preciso ter a
coragem de dedicar-se ao próximo, que é irmão. A vida que se torna oferta,
serviço ao bem, vence cenários de morte. E a Semana Santa, com suas
celebrações, tem força pedagógica para ajudar cada pessoa a seguir aquele que
venceu a morte: Cristo - Rei e Salvador.
Trilhar os
passos de Jesus exige autêntica conversão. Isto significa praticar, no
cotidiano, os valores da fé, exercendo incansavelmente a misericórdia. Assim,
podem ser superadas situações tristes que representam verdadeiro descaso, de
indiferença com a vida. Tantas pessoas são vítimas de profundo desrespeito: são
os pobres, indígenas, mulheres, pessoas que vivem nas ruas, idosos e enfermos,
migrantes e excluídos vivendo verdadeiras situações de extermínio. Uma
realidade que precisa ser transformada. O primeiro passo é abrir o coração para
a fonte infinita de misericórdia - Deus-Pai - e perceber que todos somos
irmãos. Esse reconhecimento dissipa a indiferença em relação à dor do outro.
Cede lugar para o exercício da misericórdia, que é bálsamo capaz de curar as
feridas do mundo. E o rosto da fonte inesgotável da misericórdia é Jesus
Cristo.
As celebrações
da Semana Santa, herança dos antepassados a ser cuidada, promovida e
transmitida às futuras gerações, são permanente convocação para que todos
renovem, de modo coerente com a fé que se professa, o compromisso com a
verdade, o bem comum, a honestidade, seguindo o exemplo de Jesus, rosto da
misericórdia. Meditando sobre a paixão, morte e ressurreição do Mestre, cada
pessoa tenha a oportunidade de repensar a própria vida e atitudes, diante da
necessidade humana de permanentemente buscar a conversão. Nesse exercício,
cultive a convicção a respeito do que diz o papa Francisco, na Exortação Apostólica
Pós-Sinodal Querida Amazônia: "O
Evangelho propõe a caridade divina que brota do Coração de Cristo e gera uma
busca da justiça que é inseparavelmente um canto de fraternidade e
solidariedade, um estímulo à cultura do encontro".
(*) Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte e
presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Fonte: O Povo, 10 de abril de 2020.
Opinião. p.11.
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