Por Moisés Santana (*)
No
início da pandemia pelo novo coronavírus, os dados chineses mostravam uma
baixíssima incidência de lesão aguda nos rins. Porém, com a progressão da
pandemia foi possível perceber que a realidade era diferente, como mostraram
alguns trabalhos científicos depois que o vírus se alastrou pela Itália. Lá,
30% dos pacientes internados em UTIs com Covid precisavam de hemodiálise por
conta da instabilidade do quadro e por não suportar o acúmulo de líquido no
organismo. Aqui no Brasil a pandemia também aumentou a demanda por hemodiálise.
Os centros com UTI para Covid-19 chegaram a dobrar o número de diálise e
quadruplicar o número de terapias renais contínuas. Ao que tudo indica, nem
mesmo a estabilização da pandemia irá permitir que consigamos dimensionar os
novos desafios que nos aguardam.
A
grande dúvida é: quantos desses pacientes que se recuperaram da infecção
permanecerão com disfunção renal, necessitando ou não de hemodiálise? É
esperado que a lesão aguda cesse após a melhora clínica do paciente, mas hoje
sabemos que isso não está acontecendo em todos os casos. Muitos que ficam
curados da Covid precisam de acompanhamento nefrológico ambulatorial ou mesmo
de terapia renal substitutiva.
O
fato é que hoje a ciência ainda não conhece com precisão a relação ou mesmo o
número de casos em que a insuficiência renal está ligada à Covid, ainda mais se
levarmos em conta que mais de 130 mil pessoas já faziam diálise no País antes
da pandemia começar.
Nesse
contexto, também temos que ter em mente que muitos pacientes renais adiaram
consultas e exames por conta das medidas de distanciamento social. Ainda não
conseguimos medir o impacto do adiamento dessas consultas e exames, mas temos
conhecimento que doenças graves capazes de comprometer os rins estão menos
recorrentes nos hospitais, sendo pouco provável que elas tenham diminuído com a
pandemia.
Por
mais que essas evidências existam, estamos às escuras. É preciso que os
gestores públicos tenham uma atenção especial pela saúde, pois quando o impacto
for visível ele vai afetar o sistema de saúde visto que os efeitos diretos e
indiretos na saúde dos rins são expressivos.
(*) Médico nefrologista. Presidente
da Associação das Clínicas de Diálise do
Estado do Ceará.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 27/8/2020. Opinião.
p.20.
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