Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
A
pergunta é mais importante do que a mais inteligente das respostas: — será que
a eleição resolverá os problemas nacionais?
Como
médico ou simples cidadão, sem distorção profissional, esclareço ser o termo
sintoma referente às manifestações (dor, febre, náuseas, vômitos, diarreia,
etc.) que, indicadas por determinadas doenças, auxiliam no estabelecimento de
um diagnóstico, pois sem uma análise correta, não poderá ser definida a
terapêutica adequada: baixar a febre com o antitérmico pode aliviar o mal-estar
da pessoa, mas, sem tratar a causa, a febre pode voltar, às vezes com maior
intensidade…
A
Operação Lava Jato e assemelhadas são baseadas na Lei da Ficha Limpa que prevê
a delação premiada e na Lei da Transparência. A despeito da sua importância no
saneamento nacional da classe político-empresarial ou servindo de exemplo para
as demais camadas sociais, tais operações não são instrumentos adequados para
que se atinja mudanças estruturais ou reformas governamentais.
Já
que os partidos políticos passaram a ser agrupamentos eleitorais e propriedade
de alguns poucos poderosos, sejam do mundo político ou econômico, os candidatos
a cargos eletivos tornaram-se reféns dos arranjos partidários. Ademais,
qualquer que seja o resultado da votação, o presidenciável & Cia
escolhidos, sejam eles de direita, de esquerda ou de centro passam também a
serem reféns do Congresso, das maiores bancadas e do toma-lá-dá-cá.
É
essa a grave enfermidade do Presidencialismo Imperial (de Coalizão para
permanecer na moda da expressão do politicamente correto). Fica-se preso aos
conchavos e aos eventos político-administrativos. Em consequência, para
permanecer no cargo o jeito é engrossar o caldo de cultura propício ao
crescimento das bactérias causadoras da nossa corrupção epidêmica.
Resumo da
ópera:
Não
creio que uma eleição, por si só, trará resultados para o bem do país, se não
houver mudanças radicais na estrutura atual dos três poderes e desconheço, por
parte dos candidatos atuais, alguma indicação de por onde vão começar. Compreendo
que os problemas são complexos e crônicos, mas quem nem sabe por onde começar
desconhece o caminho certo.
Juízes,
Procuradores e Magistrados não foram togados para gestarem reformas relativas
ou pertinentes ao Estado, à Nação, ao governo eleito ou até aos não eleitos.
Razão tinha Millôr Fernandes (1923-2012) quando afirmava: “Em política
nada se perde e nada se transforma — tudo se corrompe”. E tem mais, os nossos
presidentes têm data de posse mas o tempo de mandato é sempre uma incógnita.
Arremato
dizendo que Lula está preso. É um ex-presidente que permanece aspirando mais
pompa e tropeça nas circunstâncias. Nesta eleição que se aproxima dois
candidatos estão com problemas. O esquerdista está aprisionado e o da direita
encontra-se na UTI. Os demais parecem perdidos no nevoeiro, sem bússola. Será que a nossa eleição não é mais uma
jabuticaba? Relembro.
É
comum relacionar lances inusitados da política nacional à jabuticaba, fruta
silvestre que dizem só existir no Brasil.
Será
verdade?
Nem
isso, segundo afirmam os botânicos. Apesar de ter origem brasileira, ela não
existe só por aqui. A jabuticabeira, que pertence à família Myrtaceae,
nasce com facilidade em regiões próximas aos trópicos. Existem exemplares em
vários países da América Latina, como México e Argentina. No Brasil, ela
floresce de Norte a Sul, mas tem maior ocorrência na região sudeste.
Portanto, nem a jabuticaba nem a corrupção são (nem isso) exclusividade
nossa...
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE),
da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de
Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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