quarta-feira, 30 de setembro de 2020

NEM SÓ DE COVID VIVE-SE NA PANDEMIA

Por Weiber Xavier (*)

A pandemia da Covid-19 vem colocando outras demandas extraordinárias no cronicamente frágil sistema de saúde brasileiro. Além de ter o potencial de causar interrupções substanciais nos serviços de saúde, devido aos casos que sobrecarregam o sistema existem ainda limitação às atividades usuais no tratamento de doenças crônicas como o diabetes.

Segundo estudo da Universidade de Washington, duas das três principais causas de incapacidade e morte prematura globalmente podem ser atribuídas a doenças não transmissíveis (DNTs).

Pesquisa da OMS em 155 países mostrou que 53% dos países pesquisados interromperam os serviços de tratamento da hipertensão, 49% o tratamento de diabetes, 42% o tratamento de câncer, 31% das emergências cardiovasculares, 50% no rastreamento de câncer de mama e de útero, afetando principalmente os países de baixa renda.

Segundo a pesquisa pessoas que vivem com DNTs correm maior risco de doenças graves relacionadas a Covid-19 e de morte. As razões mais comuns para descontinuar ou reduzir os serviços foram devido ao cancelamento dos tratamentos planejados, uma diminuição no transporte público e, portanto, restringindo a capacidade dos pacientes de se deslocarem aos centros de saúde, bem como a falta de pessoal porque os profissionais de saúde foram transferidos para apoiar serviços com a Covid-19.

Além do impacto econômico, o stress psicológico da pandemia é enorme, levando muitos pacientes a ficarem em casa a todo custo, não procurando assistência médica para as consultas regulares e, inclusive, situações de emergência sendo postergadas. O acesso reduzido a cuidados, medicamentos e diagnósticos para pessoas com diversas condições clínicas pode levar a um aumento de mortes por causa desses problemas subjacentes. Eventualmente, isto pode levar a mais morbidade e mortalidade do que a causada pelo própria Covid-19. Manter as atividades mais críticas de prevenção e serviços de saúde fortalecidos e bem equipados além de conscientizar a população para continuar o tratamento de outras doenças crônicas podem reduzir substancialmente o impacto geral da pandemia. 

(*) Médico e professor de Medicina da UniChristus.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 15/9/2020. Opinião. p.18.

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