Por Pe. Eugênio Pacelli SJ (*)
Em março, nossa Arquidiocese com prudência e sabedoria solicitou que as
paróquias se fechassem aos cultos. Animava paróquias a buscarem formas de
acompanhar os fiéis, tendo como critério de decisão e discernimento, a
preocupação com o bem comum e a saúde pública.
A maioria dos fieis acolheu as motivações e necessidade da novidade. Um
pequeno grupo era contra e criticava a decisão como concessão ao medo ou falta
de confiança em Deus, destilando ataques injustos aos bispos.
O que Jesus faria se estivesse em nosso contexto? Com certeza, estaria a
favor da promoção da saúde e proteção de seus seguidores. A Igreja não seria a
de Jesus se colocasse em risco, com suas celebrações, a saúde e a proteção das
pessoas. Restringir a vida da Igreja à presença no templo é ter uma visão
limitada da ação do Espírito que sopra onde e como quer.
A Igreja não está fechada, mesmo que os templos estejam. As casas
passaram a ser templos, espaço para experimentar sua sacralidade, espaço da celebração
e da fé. Ao deslocar-se para as casas, a Igreja reencontrou sua fonte mais pura
e suas origens mais genuínas, antes de ser templo, a Igreja foi casa.
Nas casas mostrou-se ativa: "eram perseverantes em ouvir o
ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas
orações" At 2,42. Igrejas domésticas, alimentadas na oração, celebrações
transmitidas pelas TVs, rádios e mídias sociais, redes de solidariedade na
assistência aos pobres pela caridade. Um chamado a redescobrir e valorizar a
força da experiência espiritual e o protagonismo pastoral que a família é para
a própria Igreja, no horizonte pós-pandemia.
Muitos despertaram para a importância de viver e partilhar a fé em
comunidade, e que, vendo a vivacidade da comunidade cristã, com certeza serão
atraídas para esta, inclusive desfrutando de seu espaço físico em um futuro
próximo.
Igreja-mãe preocupada com a proteção de seus filhos numa pandemia jamais
vista. Nos colocou cada um em sua casa e Deus na casa de todos. Uma coisa linda
de testemunhar. Templos fechados, igrejas domésticas abertas e vivas.
(*) Sacerdote jesuíta e mestre em
Teologia.
Fonte: O Povo, de 1/8/2020.
Opinião. p.16.
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