domingo, 27 de setembro de 2020

TEMPLOS FECHADOS, IGREJA ABERTA

Por Pe. Eugênio Pacelli SJ (*)

Em março, nossa Arquidiocese com prudência e sabedoria solicitou que as paróquias se fechassem aos cultos. Animava paróquias a buscarem formas de acompanhar os fiéis, tendo como critério de decisão e discernimento, a preocupação com o bem comum e a saúde pública.

A maioria dos fieis acolheu as motivações e necessidade da novidade. Um pequeno grupo era contra e criticava a decisão como concessão ao medo ou falta de confiança em Deus, destilando ataques injustos aos bispos.

O que Jesus faria se estivesse em nosso contexto? Com certeza, estaria a favor da promoção da saúde e proteção de seus seguidores. A Igreja não seria a de Jesus se colocasse em risco, com suas celebrações, a saúde e a proteção das pessoas. Restringir a vida da Igreja à presença no templo é ter uma visão limitada da ação do Espírito que sopra onde e como quer.

A Igreja não está fechada, mesmo que os templos estejam. As casas passaram a ser templos, espaço para experimentar sua sacralidade, espaço da celebração e da fé. Ao deslocar-se para as casas, a Igreja reencontrou sua fonte mais pura e suas origens mais genuínas, antes de ser templo, a Igreja foi casa.

Nas casas mostrou-se ativa: "eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações" At 2,42. Igrejas domésticas, alimentadas na oração, celebrações transmitidas pelas TVs, rádios e mídias sociais, redes de solidariedade na assistência aos pobres pela caridade. Um chamado a redescobrir e valorizar a força da experiência espiritual e o protagonismo pastoral que a família é para a própria Igreja, no horizonte pós-pandemia.

Muitos despertaram para a importância de viver e partilhar a fé em comunidade, e que, vendo a vivacidade da comunidade cristã, com certeza serão atraídas para esta, inclusive desfrutando de seu espaço físico em um futuro próximo.

Igreja-mãe preocupada com a proteção de seus filhos numa pandemia jamais vista. Nos colocou cada um em sua casa e Deus na casa de todos. Uma coisa linda de testemunhar. Templos fechados, igrejas domésticas abertas e vivas. 

(*) Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia.

Fonte: O Povo, de 1/8/2020. Opinião. p.16.

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