quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Hospital Veterinário Dr. Sylvio Barbosa Cardoso na luta contra a Covid-19

Por Profa. Dra. Maria de Fátima da Silva Teixeira (*)

No atual contexto de pandemia da doença Covid-19, a Organização Mundial de Saúde recomenda implementação de diversas medidas nas áreas de saúde: hospitais, clínicas, UPAS, laboratórios etc. e não podia ser diferente com o hospital veterinário. Se existe a possibilidade de circulação do coronavírus que causa a Covid-19 em locais variados, principalmente onde há aglomeração de pessoas, um misto de  sadias, doentes, aparentemente sadias mas que ainda estão ainda transmitindo o vírus, estas pessoas podem tossir, espirrar e sobretudo se algumas não usam máscaras, os que não higienizam adequadamente as mãos  podem espalhar vírus onde tocam, daí temos disseminação maior nos locais públicos mais aglomerados; lojas, nas filas de bancos, nos supermercados sobre a superfície dos produtos que as pessoas tocam com as mãos, etc. Pesquisadores já detectaram material genético do vírus por reação em cadeia de polimerase até em parques, praças públicas, no ar em ruas e prédios próximo a hospitais etc.

Não só os coronavírus mais diversos outros agentes infecciosos podem estar espalhados no ambiente, cabe ao homem se prevenir, usar medidas higiênico sanitárias e sobretudo as atuais medidas sugeridas pelas autoridades em saúde, pois neste tempo de pandemia, onde contra o agente, as vacinas, ainda estão em fase de finalização, testes para liberação, os poucos medicamentos para combate aos vírus, são não tão eficazes e direcionados para o coronavírus como se deseja. Resta aplicação de medidas preventivas higiênico sanitárias, mais se usadas adequadamente fazem uma grande diferença no controle da pandemia e disseminação do agente.

Existe ainda o contexto que suscita muitas dúvidas no que concerne à transmissão da Covid-19 do homem para os animais, e se estes podem funcionar como transmissores? Os animais que se contaminam podem passar a Covid-19 para o homem? Nesta abordagem pode-se dizer que raros animais se contaminam com a doença dos seres humanos, que é causada por vírus classificados na família Coronaviridae e são de Gêneros diferentes, o atual SARS Cov-2 humano pertence ao grupo dos Bethacoronavirus enquanto que os coronavírus dos cães e gatos é causada pelo Gênero Alphacoronavirus espécie-específicos para muitos animais. Haja vista que a ligação entre o receptor celular e a proteína da espícula do vírus ocorre em cinco aminoácidos, dois dos quais são diferentes em cães e gatos, daí a explicação das poucas ocorrências.

Em inoculação experimental do vírus no Instituto de Pesquisa Veterinária Harbin, na China foram utilizados furões, todos apresentaram vírus no lavado nasal e apresentaram anticorpos contra o vírus humano, em gatos, quatro dos sete inoculados, apresentaram anticorpos contra esse vírus e em cães, dois dos sete inoculados, também apresentaram anticorpos contra o vírus humano.

No que concerne ao SARS Cov-2, menos de 25 cães e gatos no mundo inteiro foram relatados ter o vírus de acordo com dados citados pela FIOCRUZ, os primeiros casos divulgados foram dois gatos apresentando leves problemas respiratórios nos estados Unidos foram confirmados positivos pelo CDC de Atlanta; em seguida, foi uma tigresa que se contaminou no zoológico de Nova York do Bronx, contraído de um funcionário assintomático para Covid-19. Em março um outro gato contraiu coronavírus na Bélgica possivelmente pelo contato com o dono doente e houve dois casos de cães que testaram positivo para coronavírus em Hong Kong. No Brasil não existe registro comprovado de cães positivos para SARS Coronavírus tipo 2.

Como há a possibilidade dos animais se contaminarem ou carrearem coronavírus humano causando a Covid-19, recomenda-se restrições, evitar aglomerações, limitar o tempo de passeio de forma que sejam curtos suficiente para satisfazer as necessidades fisiológicas, higienizar as patas e focinhos dos animais com água e sabão ou lencinhos umedecidos próprios para pets em geral com clorexidina, não é recomendado álcool, nem outros desinfetantes que possam ser agressivos e causar alergias. Os animais podem ser carreadores de vírus nas patas, se eles tiveram contato com doentes que espalharam vírus no ambiente onde o animal se encontrava. É bom lembrar que não só os animais, mas o próprio tutor do animal pode carrear vírus nos calçados, nas roupas, bolsas etc.; a transmissão da Covid-19 dos animais para o homem, até o presente momento não foi demonstrada.

Em estudo experimental na revista Nature, animais foram infectados e acompanhados, quanto a presença e eliminação de vírus por RT-PCR. O observado é que a cada semana que passava o vírus se replicava e diminua sua titulação sendo observado na primeira delas positivo em todos os testes, após negativa na nasofaringe, depois no sangue e finalmente nas fezes, como se tivesse havido uma atenuação do vírus. O que leva a se pensar que não existe a transmissão do coronavírus do animal para o homem. Até o momento não existe nenhuma evidência que possa comprovar esta hipótese.

Como era de se esperar o hospital veterinário é um local que apesar de atendimento aos animais, estes pacientes não se dirigem sozinhos ao atendimento, precisam ser levados por pessoas ou tutores. Acontece que os animais de estimação são tão queridos pela população que passam a ser considerados uma pessoa da família, antes em várias ocasiões ia quase a família inteira consultar o pet, todos querendo acompanhar seu animal principalmente quando estavam apresentando algum sinal mais grave. Daí o hospital era um local de aglomeração de pessoas, no contexto atual de pandemia, isto não pode ocorrer necessitando de cuidados básicos para mitigar a disseminação de doenças infecciosa principalmente da Covid-19.

A primeira das medidas foi uso de outro portão de acesso específico para o Hospital Veterinário Dr. Sylvio Barbosa Cardoso, a segunda foi limitar o acesso de pessoas para apenas um tutor o qual só poderá entrar usando máscara. Os tutores deverão se dirigir ao hall do hospital com seus animais no colo ou contidos na coleira até a recepção onde receberão uma ficha. Deverão fazer a higienização das mãos com álcool gel disponível em totens ou em dispositivo manual de parede, disponíveis no hall, corredores entrada de consultórios e demais salas de circulação.  Existe acesso a banheiros e disponibilização de água e sabão nas pias. O atendimento acontecerá por ordem de chegada excetuando excepcionais casos de emergência. A numeração aparecerá no painel eletrônico da sala de espera, uma sala aberta onde existem bancos com a marcação distanciada de um metro e meio para as pessoas aguardarem seu atendimento mantendo a distância recomendada.

Os veterinários e os funcionários do hospital fazem uso regular de equipamentos de proteção individual (EPIs) de acordo com a necessidade, sendo uso de jalecos, gorros, máscara, protetor facial, calcados adequados, propé; funcionários de campo, em vez de jalecos usam macacão e botas. A higienização com substância desinfetante (hipoclorito ou similar) se faz regularmente nos corredores de circulação do hospital; nos consultórios a cada paciente, pisos, mesas de atendimento dos animais são higienizadas. O descarte de EPIs é realizado em recipiente diferente do lixo comum, em lixeiras com pedais e identificação da tampa com X e com o símbolo de infectante adesivado no recipiente. Um funcionário usando EPIs recolherá o lixo e o levará ao container de Lixo infectante localizado externamente ao hospital a ser coletado pela prestadora de serviço contratada pela universidade para destino final de incineração. O uso das medidas de controle adequado implica o controle da disseminação da covid-19 nesse ambiente hospitalar colaborando com o estabelecimento de medida preventiva do Serviço Único de Saúde (SUS).

(*) Professora do Curso de Veterinária e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Estadual do Ceará-UECE. Virologista. Membro do Grupo de Trabalho-GT para enfrentamento à pandemia do coronavírus da UECE

** Publicado In: Jornal do médico digital, 1(4): 60-63, agosto de 2020. (Revista Médica Independente do Ceará).

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