Por Profa. Dra. Maria de Fátima da Silva Teixeira (*)
No
atual contexto de pandemia da doença Covid-19, a Organização Mundial de Saúde
recomenda implementação de diversas medidas nas áreas de saúde: hospitais,
clínicas, UPAS, laboratórios etc. e não podia ser diferente com o hospital
veterinário. Se existe a possibilidade de circulação do coronavírus que causa a
Covid-19 em locais variados, principalmente onde há aglomeração de pessoas, um
misto de sadias, doentes, aparentemente
sadias mas que ainda estão ainda transmitindo o vírus, estas pessoas podem tossir,
espirrar e sobretudo se algumas não usam máscaras, os que não higienizam
adequadamente as mãos podem espalhar
vírus onde tocam, daí temos disseminação maior nos locais públicos mais
aglomerados; lojas, nas filas de bancos, nos supermercados sobre a superfície dos
produtos que as pessoas tocam com as mãos, etc. Pesquisadores já detectaram
material genético do vírus por reação em cadeia de polimerase até em parques,
praças públicas, no ar em ruas e prédios próximo a hospitais etc.
Não
só os coronavírus mais diversos outros agentes infecciosos podem estar
espalhados no ambiente, cabe ao homem se prevenir, usar medidas higiênico
sanitárias e sobretudo as atuais medidas sugeridas pelas autoridades em saúde,
pois neste tempo de pandemia, onde contra o agente, as vacinas, ainda estão em
fase de finalização, testes para liberação, os poucos medicamentos para combate
aos vírus, são não tão eficazes e direcionados para o coronavírus como se
deseja. Resta aplicação de medidas preventivas higiênico sanitárias, mais se usadas
adequadamente fazem uma grande diferença no controle da pandemia e disseminação
do agente.
Existe
ainda o contexto que suscita muitas dúvidas no que concerne à transmissão da
Covid-19 do homem para os animais, e se estes podem funcionar como
transmissores? Os animais que se contaminam podem passar a Covid-19 para o homem?
Nesta abordagem pode-se dizer que raros animais se contaminam com a doença dos
seres humanos, que é causada por vírus classificados na família Coronaviridae e são de Gêneros
diferentes, o atual SARS Cov-2 humano pertence ao grupo dos Bethacoronavirus enquanto que os
coronavírus dos cães e gatos é causada pelo Gênero Alphacoronavirus espécie-específicos para muitos animais. Haja
vista que a ligação entre o receptor celular e a proteína da espícula do vírus
ocorre em cinco aminoácidos, dois dos quais são diferentes em cães e gatos, daí
a explicação das poucas ocorrências.
Em
inoculação experimental do vírus no Instituto de Pesquisa Veterinária Harbin,
na China foram utilizados furões, todos apresentaram vírus no lavado nasal e
apresentaram anticorpos contra o vírus humano, em gatos, quatro dos sete
inoculados, apresentaram anticorpos contra esse vírus e em cães, dois dos sete
inoculados, também apresentaram anticorpos contra o vírus humano.
No
que concerne ao SARS Cov-2, menos de 25 cães e gatos no mundo inteiro foram
relatados ter o vírus de acordo com dados citados pela FIOCRUZ, os primeiros
casos divulgados foram dois gatos apresentando leves problemas respiratórios nos
estados Unidos foram confirmados positivos pelo CDC de Atlanta; em seguida, foi
uma tigresa que se contaminou no zoológico de Nova York do Bronx, contraído de
um funcionário assintomático para Covid-19. Em março um outro gato contraiu
coronavírus na Bélgica possivelmente pelo contato com o dono doente e houve
dois casos de cães que testaram positivo para coronavírus em Hong Kong. No
Brasil não existe registro comprovado de cães positivos para SARS Coronavírus
tipo 2.
Como
há a possibilidade dos animais se contaminarem ou carrearem coronavírus humano causando
a Covid-19, recomenda-se restrições, evitar aglomerações, limitar o tempo de
passeio de forma que sejam curtos suficiente para satisfazer as necessidades
fisiológicas, higienizar as patas e focinhos dos animais com água e sabão ou lencinhos
umedecidos próprios para pets em geral com clorexidina, não é recomendado
álcool, nem outros desinfetantes que possam ser agressivos e causar alergias.
Os animais podem ser carreadores de vírus nas patas, se eles tiveram contato
com doentes que espalharam vírus no ambiente onde o animal se encontrava. É bom
lembrar que não só os animais, mas o próprio tutor do animal pode carrear vírus
nos calçados, nas roupas, bolsas etc.; a transmissão da Covid-19 dos animais
para o homem, até o presente momento não foi demonstrada.
Em
estudo experimental na revista Nature, animais foram infectados e acompanhados,
quanto a presença e eliminação de vírus por RT-PCR. O observado é que a cada
semana que passava o vírus se replicava e diminua sua titulação sendo observado
na primeira delas positivo em todos os testes, após negativa na nasofaringe,
depois no sangue e finalmente nas fezes, como se tivesse havido uma atenuação
do vírus. O que leva a se pensar que não existe a transmissão do coronavírus do
animal para o homem. Até o momento não existe nenhuma evidência que possa
comprovar esta hipótese.
Como
era de se esperar o hospital veterinário é um local que apesar de atendimento
aos animais, estes pacientes não se dirigem sozinhos ao atendimento, precisam
ser levados por pessoas ou tutores. Acontece que os animais de estimação são
tão queridos pela população que passam a ser considerados uma pessoa da
família, antes em várias ocasiões ia quase a família inteira consultar o pet,
todos querendo acompanhar seu animal principalmente quando estavam apresentando
algum sinal mais grave. Daí o hospital era um local de aglomeração de pessoas,
no contexto atual de pandemia, isto não pode ocorrer necessitando de cuidados
básicos para mitigar a disseminação de doenças infecciosa principalmente da Covid-19.
A
primeira das medidas foi uso de outro portão de acesso específico para o Hospital
Veterinário Dr. Sylvio Barbosa Cardoso, a segunda foi limitar o acesso de pessoas
para apenas um tutor o qual só poderá entrar usando máscara. Os tutores deverão
se dirigir ao hall do hospital com seus animais no colo ou contidos na coleira
até a recepção onde receberão uma ficha. Deverão fazer a higienização das mãos
com álcool gel disponível em totens ou em dispositivo manual de parede,
disponíveis no hall, corredores entrada de consultórios e demais salas de
circulação. Existe acesso a banheiros e
disponibilização de água e sabão nas pias. O atendimento acontecerá por ordem
de chegada excetuando excepcionais casos de emergência. A numeração aparecerá
no painel eletrônico da sala de espera, uma sala aberta onde existem bancos com
a marcação distanciada de um metro e meio para as pessoas aguardarem seu
atendimento mantendo a distância recomendada.
Os
veterinários e os funcionários do hospital fazem uso regular de equipamentos de
proteção individual (EPIs) de acordo com a necessidade, sendo uso de jalecos,
gorros, máscara, protetor facial, calcados adequados, propé; funcionários de
campo, em vez de jalecos usam macacão e botas. A higienização com substância
desinfetante (hipoclorito ou similar) se faz regularmente nos corredores de
circulação do hospital; nos consultórios a cada paciente, pisos, mesas de
atendimento dos animais são higienizadas. O descarte de EPIs é realizado em
recipiente diferente do lixo comum, em lixeiras com pedais e identificação da
tampa com X e com o símbolo de infectante adesivado no recipiente. Um
funcionário usando EPIs recolherá o lixo e o levará ao container de Lixo
infectante localizado externamente ao hospital a ser coletado pela prestadora
de serviço contratada pela universidade para destino final de incineração. O
uso das medidas de controle adequado implica o controle da disseminação da covid-19
nesse ambiente hospitalar colaborando com o estabelecimento de medida
preventiva do Serviço Único de Saúde (SUS).
(*) Professora do Curso de Veterinária
e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Universidade
Estadual do Ceará-UECE. Virologista. Membro do Grupo de Trabalho-GT para
enfrentamento à pandemia do coronavírus da UECE
** Publicado In: Jornal do médico
digital, 1(4): 60-63, agosto de 2020. (Revista Médica
Independente do Ceará).
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