Por Maria Helena Lima Sousa (*)
Considero equivocada a reabertura do
comércio e a restrição do isolamento social, apenas a grupos de risco. É
preciso entender que a Covid-19 não é uma “gripezinha”. Trata-se de um vírus de
alto poder de disseminação e cada pessoa, mesmo assintomática, pode contaminar
em média, outras quatro, resultando numa propagação em escala exponencial.
A falta de sincronização de ação entre
as esferas decisórias dificulta a obtenção de resultados mais efetivos e a
aberta oposição do presidente cria obstáculos ao entendimento da doença por
grande parte da população.
Outro problema consiste na alta
subnotificação dos casos. Estimativa do MS chega a 86%. Chama a atenção o
aumento da proporção de internações por síndrome respiratória aguda que saltou
de 3% em 2019, para 80% neste ano, sugerindo que 77% das mortes sejam
atribuídas ao coronavírus sem diagnóstico.
Com isolamento severo, muitas vidas
serão salvas, ainda que com retração da economia, mas em condições de recuperação
no curto-médio prazo por meio de intervenção do Estado. Relaxar nas
recomendações da OMS acarretará explosão do número de casos, além do colapso do
sistema de saúde. Empresários defensores do fim do isolamento estão dando um
tiro no próprio pé, pois o caos é sempre o pior cenário para a economia. Além
disso, aos que minimizam a morte de idosos, além de cruel, saibam que eles são
responsáveis por 19% do sustento das famílias brasileiras.
A vantagem do Brasil sobre outros países
é o SUS, mesmo com o subfinanciamento histórico e o processo de desmonte em
curso. Mas é nele que o MS está se ancorando pra enfrentar o coronavírus.
(*) Economista,
doutora em Saúde Coletiva, Profa. Visitante da Universidade Estadual do Ceará.
Fonte: Publicado
In: O Povo, de 19/3/2020. Confronto de ideias. p.18.
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