LICENÇA PARA
FURTAR
Moreira de
Azevedo - "Mosaico Brasileiro", pág. 54.
Havia no Rio de Janeiro uma padaria cujo proprietário era
freqüentemente condenado a multas pelo juiz Petra de Bitencourt, pelo furto,
que fazia ao povo, no peso e na qualidade do pão. Apadrinhando-se com um
fidalgo prestigioso esse comerciante desonesto conseguiu que o ministro
assinasse um aviso, ordenando ao magistrado que não mais perseguisse o
fabricante de pão pequeno.
Portador do aviso, o comerciante entregou ao juiz Petra,
o documento, e esperou a resposta.
- Vá descansado, -
declarou o magistrado, ao terminar a leitura do documento. - Vá descansado.
E nos seus modos desabridos:
- Vá descansado, e pode furtar à sua vontade, porque o ministro
o autorizou; e tolo será o senhor se não furtar dez vezes mais do que até agora
tem feito
A ÚLTIMA CARGA
J.M. de Macedo
- "Ano Biográfico", vol. III, página 296.
Atacado pelas febres nos pântanos paraguaios, o general
José Joaquim de Andrade Neves, já agraciado com o título de Barão de Triunfo,
não queria abandonar a sua divisão de cavaleiros rio-grandenses, para
tratar-se. Cada vez que caía sobre o inimigo era uma vitória para a sua
cavalaria.
Após o choque em Lomas Valentinas, o herói não pôde mais.
Levado para Assunção, a febre alta não o deixava mais, conservando-o em delírio
permanente. E nesse delírio, os olhos em fogo, as mãos crispadas, erguia-se no
leito, a barba em desalinho, como no fragor das batalhas.
A 6 de janeiro de 1870, era esse o seu estado, quando, no
último delírio, bradou, com as últimas forças:
- Camaradas!... mais uma carga!... E tombou arquejando, para morrer.
HUMORISMO DE
MORIBUNDO
Alberto Faria
- Conferência sobre Fagundes Varela, na Academia Brasileira de Letras, em 1925.
O poeta Aureliano Lessa, cuja intemperança ficou famosa
na Faculdade de Direito de São Paulo no tempo de Álvares de Azevedo, de quem
foi o companheiro mais íntimo, chegou aos trinta e três anos inteiramente
inutilizado pelo álcool.
Às portas da morte, o ventre enorme, vendo a esposa em
pranto, consolou-a, rindo, com esta quadra, improvisada quase nos estertores da
agonia:
"Enxuga,
Augusta, este pranto
Nas dobras da tua anágua;
Que o teu pobre Aureliano
Morre de barriga dágua!"
Nas dobras da tua anágua;
Que o teu pobre Aureliano
Morre de barriga dágua!"
A BASE DA
DEMOCRACIA
Anais da Constituinte
Republicana, vol. I, pág. 559.
Na sessão de 15 de dezembro de 1890, o assunto do dia foi
a mudança da capital da República. Da tribuna, o sr. Virgilio Damásio justifica
o projeto, alegando a necessidade de afastar o governo de um ambiente agitado
pelas paixões e pelos interesses.
- Essa grande massa de homens - diz - é uma arma,
uma alavanca poderosíssima em mãos de agitadores.
O sr. Vinhais - Pois esta é a verdadeira base em que assenta a democracia.
O sr. Virgílio Damásio - A base da democracia é a liberdade!
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).
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