Por Ricardo
Alcântara (*)
Quando eu era menino – infelizmente, faz muito tempo –
havia um curioso personagem de histórias em quadrinhos chamado Gasparzinho. Era
um fantasminha esperto, que surgia e desaparecia ao sabor das circunstâncias e
de acordo com seus próprios interesses.
Agora, veja como as aparências enganam: o Lula, por
exemplo, está vivo, embora se finja de morto quando as ruas do país, em chamas,
exigem reação, ainda que tardia, do governo de seu partido a problemas que ele
prometeu enfrentar, quando chegasse ao poder.
Como o fantasminha malandro, Lula “só vai na boa”:
injustificavelmente distante de conflitos que em muito dizem respeito a
decisões tomadas no seu próprio governo, a maior liderança popular do país
sumiu, evitando ser identificado com sua própria obra.
É evidente, nenhuma manobra é definida no Palácio do
Planalto sem que ele seja ouvido. Se está por trás de tudo, por que não
mostra a cara? Pelo menos para que nos explique o porquê da nossa copa – a sua
copa – custar o mesmo valor das três últimas juntas.
Pela liderança que detém, a omissão de Lula é uma
irresponsabilidade. Mas há, nesta irresponsabilidade, muito mais esperteza do
que covardia: se agora rasgam nas ruas bandeiras do partido dele, como
reagiriam se o ex-presidente mostrasse a cara?
O PT preserva Lula porque Lula é o seu pré-sal, a fonte
inesgotável de popularidade que poderá ser convocada, se necessário, pois, por
mais que recupere parte de sua sintonia com as ruas, o élan reformista
do governismo deverá alcançar 2014 muito desbotado.
Digo “deverá” porque não é possível ainda projetar os
efeitos que os eventos de agora terão sobre as eleições do próximo ano e isto
de tal modo que, em verdade, trabalha-se em Brasília, e freneticamente, é para
que 2014 aconteça na forma juridicamente prevista.
Não é outra, a fonte de inspiração para a presteza com
que agora o parlamento pratica seu delivery para causas reclamadas há
tanto tempo, senão a necessidade de atualizar-se com as ruas de modo que seus
clamores não avancem com maiores expectativas de ruptura.
Ao contrário do que muitos previram (entre os quais, em
penitência, me incluo), houve, sim, maior razoabilidade entre os aliados de
centro do governo para acolher uma parcela das questões reclamadas, oferecendo
alguns anéis antes que lhe cortassem os dedos.
Sugere-se aos militantes em rede que cobrem as praças do
país que coloquem no circuito virtual uma nova adaptação da hastag que marca o movimento: # vem prá
rua, Lula! Vem, e explica prá gente como foi que o “espetáculo do crescimento”
deu nisso tudo.
Padrão FIFA também para a fiscalização
O jornalista Eliomar de Lima repercutiu uma declaração do
deputado Edson Silva que deveria mesmo merecer relevante atenção das ruas: a
sonegação de impostos que, no Brasil, alcança recursos suficientes para pagar
vinte copas do mundo por ano.
É de tirar o sono.
(*) Jornalista e
escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre
é cão
sem dono. Se gostou, passe adiante.
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