sexta-feira, 19 de julho de 2013

SOBRE O AMOR



Meraldo Zisman (*)
(Inspirado em trecho do Discurso de Platão)
Para recordar, o Banquete de Platão é considerado uma das principais obras do Mundo Clássico, escrito por volta de 380 a.C. Constitui-se, basicamente, de uma série de discursos sobre a natureza e as qualidades do amor, o mais antigo dos deuses e um dos mais poderosos. Contudo, é preciso saber separar o amor terreno e o amor divino, afirma o  comediógrafo Aristófanes (450[?]a.C. - 385[?]a.C.), explicando que existem duas modalidades de amores: o vulgar, passageiro, e o perene, entre duas almas.
Na Antiguidade, os dois sexos eram representados por um corpo unido, redondo como uma bola, com quatro braços, quatro mãos, quatro pés e dois rostos. Movimentava-se com tamanha rapidez, devido aos seus oito membros, como os raios de uma roda, em uma série de saltos contínuos. Terrível era a raça desses homens/mulheres. Dotado de tantos poderes, planejava atacar o deus Júpiter. Amedrontado, Júpiter cortou-lhe ao meio, retirando-lhe metade  de sua força. Foi assim que deus separou os dois sexos. Desde então, aquele corpo vem ele se consumindo, em um ardente desejo de se reunir à outra metade. A aspiração de voltar à forma antiga é designada como o amor, causa principal da tragédia humana.
Sócrates (470 a.C. - 399 a.C.) ao ouvir isso falou:
“Tudo bem, mas permitam-me, após ouvir tão sábias e eruditas explanações enunciar as minhas modestíssimas opiniões. O amor é o ardente anelo da alma humana pela beleza divina. O amante anseia não somente por encontrar a beleza, porém para criá-la, perpetuá-la, plantar no corpo a semente da imortalidade. É por isso que se amam os sexos uns aos outros, para se reproduzirem e, assim, prolongarem o tempo até a eternidade. É por isso que os pais amam os filhos. “Porque a alma dos pais afetuosos cria, não apenas filhos, mas, também, investigadores e companheiros, colaboradores e sucessores, na eterna busca da beleza.”
Após ter conhecimento da explanação de Sócrates, e de outros grandes filósofos clássicos, Mario Quintana (1906-1994) pediu licença para declamar uma poesia de sua autoria: 'Borboletas'.
"Quando depositamos muita confiança ou expectativas em uma pessoa, o risco de se decepcionar é grande. As pessoas não estão neste mundo para satisfazer as nossas expectativas, assim como não estamos aqui para satisfazer as delas. Temos que nos bastar... nos bastar sempre e quando procuramos estar com alguém, temos que nos conscientizar de que estamos juntos porque gostamos, porque queremos e nos sentimos bem, nunca por precisar de alguém".
"As pessoas não se precisam, elas se completam... não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida. Com o tempo, você vai percebendo que, para ser feliz com a outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela. Percebe também que aquela pessoa que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente, não é o homem ou a mulher de sua vida. Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem gosta de você. O segredo é não cuidar das borboletas e, sim, cuidar do jardim, para que elas venham até você. No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!"
Caso eu estivesse por lá, não poderia ficar calado. Eu diria:
"É certo que neste mundo nada nos torna necessário, a não ser o amor.  Sem ele, estaríamos mortos. A causa de todas as doenças é quando separamos sexo do amor. Fazer sexo sem amor é o grande causador das enfermidades humanas. E daria um conselho para os apaixonados, não contem a ninguém que está amando. Não deixe ninguém saber! Jamais perdoamos o amor alheio!"
Ao ouvir tais palavras, poderia o Mario Quintana exclamar baixinho para mim:  - "Não te abras com um amigo, porque ele tem outros amigos, e os amigos dele também possuem amigos".
Enfim, como o amor é algo que não admite passado nem futuro, é melhor sermos cautelosos quando dele falar. Que ninguém nos escute:
o amor deixa de ser prazeroso quando não é mais segredo!
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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